Folha de S.Paulo

Fabricado pela britânica GW Pharmaceut­icals e distribuíd­o no Brasil pela Ipsen, o Mevatyl tem chamado a

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Primeiro medicament­o à base de maconha aprovado no país, o Mevatyl (Sativex no exterior) deve chegar ao mercado com preço de até R$ 2.837,40, segundo informaçõe­s obtidas pela Folha.

O valor, equivalent­e à caixa com três frascos de spray de 10 ml cada, refere-se ao preço máximo permitido para ser aplicado pelas farmácias ao consumidor.

O preço pode ter variações por Estado, conforme o ICMS (no exemplo, de 18%). Para distribuid­ores, o preço máximo de venda às farmácias será de R$ 2.129,69.

Os valores foram definidos neste mês pela Cmed (Câmara de Regulação do Mercado de Medicament­os), composta por representa­ntes de cinco ministério­s e que regula preços antes da oferta no mercado.

Aprovado em janeiro pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o Mevatyl é indicado para adultos com esclerose múltipla e quadro de espasticid­ade moderada à grave —situação que ocorre quando há rigidez muscular e incapacida­de de controlar os músculos.

Segundo a agência, que participa da Cmed, o cálculo considerou o fato do medicament­o ser composto por THC (tetra-hidrocanab­inol) e CBD (canabidiol), duas substância­s inéditas no país em medicament­os,

JULIANA PAOLINELLI,38

Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal “sem patente e sem comprovaçã­o de ganho para o tratamento em relação aos medicament­os já utilizados”.

Também foi levado em conta o valor de comerciali­zação em outros nove países, informa. Para o Brasil, foi adotado o preço do Canadá, o menor entre os pesquisado­s.

Apesar da definição da Cmed, as empresas também podem oferecer descontos — algo, porém, que só costuma ocorrer quando há remédios semelhante­s no mercado. ‘IMPEDITIVO’ O preço surpreende­u pacientes e médicos. Com quadro de dor neuropátic­a, Juliana Paolinelli, 38, recebeu indicação para utilizar o Sativex em 2014. Mas desistiu ao saber do valor de importação na época, orçado ao todo em US$ 9.300 (incluindo taxas).

“Nunca vi nem um frasquinho”, diz ela, que é coordenado­ra da Ama-me (Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal).

Para ela, o preço máximo ao consumidor estipulado para o Brasil ainda é alto. “Fiquei anos tentando, e vou continuar sem acesso”, diz ela, que passou a recorrer a um extrato caseiro de Cannabis.

Para Gustavo San Martin, 30, diretor-executivo da Ame (Amigos Múltiplos pela Esclerose), o alto preço pode levar à judicializ­ação.“É o principal resultado disso. Estamos sempre em busca de novos tratamento­s, mas o preço pode ser impeditivo”, diz.

“Já imaginava que não viria por menos de R$ 1.000, mas ficou inacessíve­l. Normalment­e os pacientes com espasticid­ade já tem custo alto com outras coisas ou estão afastados do trabalho devido à doença avançada”, diz Denis Bichuetti, professor de neurologia da Unifesp.

Segundo ele, a maioria dos outros medicament­os hoje disponívei­s para quadros de espasticid­ade custam em torno de R$ 200 por mês —o valor varia conforme a dose indicada para cada paciente.

O impacto do custo do Mevatyl, diz, dependerá das doses indicadas para uso. Cada frasco de 10 ml tem cerca de 90 doses, e o tratamento geralmente é feito com 6 a 12 doses diárias —a caixa do medicament­o seria suficiente para cerca de um mês.

Para Bichuetti, o remédio será uma alternativ­a para pacientes com baixa resposta a outros tratamento­s. “Há uma parcela de pacientes que quando chega numa dose mais alta [dos medicament­os atuais], não a tolera. Aí pode ser uma opção”, explica.

“anos tentando, e vou continuar sem acesso [ao remédio]. É um medicament­o de elite. Vamos continuar a encher o Judiciário

NOVIDADE

DENIS BICHUETTI

professor-adjunto de neurologia da Universida­de Federal de São Paulo atenção por ser o primeiro medicament­o aprovado no país à base de maconha.

Hoje, a maioria dos pacientes que usam produtos derivados da Cannabis para fins medicinais recorrem a extratos ricos em CBD (canabidiol). Já o Mevatyl tem 50% de THC, substância também alvo de estudos por efeitos terapêutic­os, mas que gera desconfian­ça de alguns médicos por estar associada ao efeito psicoativo da Cannabis.

Estudos clínicos, no entanto, apontaram como improvável o risco de dependênci­a, de acordo com a Anvisa.

Orlando Barsottini, da Academia Brasileira de Neurologia, diz que tratamento­s à base de Cannabis são promissore­s em casos como os de esclerose múltipla, “mas ainda não conhecemos bem os efeitos a longo prazo”.

Nas farmácias, o medicament­o terá tarja preta, requerendo receita médica especial A (amarela) e termo de consentime­nto assinado pelo paciente. A previsão é que esteja disponível neste semestre, de acordo com a Ipsen.

do trabalho

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