Folha de S.Paulo

Paraplégic­o após queda, atleta ‘renasce’ e vira destaque em Mundial londrino

- PAULO ROBERTO CONDE

Em 2005, André Rocha, 40, fazia uma das muitas perseguiçõ­es em que se meteu como policial militar em Taubaté (a 130 km de São Paulo) quando resolveu escalar um muro, certo de que o transporia sem maiores problemas.

O equívoco no cálculo da aterrissag­em custou a fuga do suspeito de furto e mais. Ao tentar se erguer, Rocha percebeu que lhe faltava força. Em um átimo, a informação atingiu o cérebro e uma dor lancinante varreu seu corpo.

O impacto foi tamanho que houve uma compressão entre a medula, o osso e a coluna cervical. A lesão forçou a realização de três cirurgias em um período de 14 dias.

Como sequela, a perda de movimentos nas pernas acabou por confiná-lo a uma cadeira de rodas. Rapidament­e sua autoestima despencou.

“Entrei em uma depressão profunda e não via maneira de me reerguer”, contou.

A dor nunca arrefeceu. Por três anos, tomou morfina, primeiro de a cada quatro horas e depois, a cada 12. Também colocou um marca-passo para aliviar a sua situação.

“Eu tinha e tenho dor 24 horas por dia”, afirmou.

Em meio a tal aflição, Rocha será um dos destaques da delegação brasileira que disputa a partir desta sexta (14) o Mundial de atletismo paraolímpi­co, em Londres, e se estende até o próximo dia 23. O Brasil terá 25 representa­ntes.

O palco da competição será o estádio Olímpico dos Jogos de Londres-2012, mas para ele tudo será novidade.

Rocha, que disputa seu primeiro Mundial, bateu duas vezes o recorde mundial do lançamento do disco da classe F52 recentemen­te, a última delas no mês passado —com uma marca de 23,24 m.

A pretensão é ratificar a condição de favorito na prova, a única que disputará na capital britânica. “Se eu encaixar o meu melhor lançamento, é possível trazer a medalha de ouro”, afirmou ele, hoje policial reformado.

Em Londres, Rocha quer o pódio não somente para computar um metal no peito, mas para “pagar uma dívida”.

Segundo ele, coube à prática esportiva o fim da depressão. O jogador de basquete de final de semana descobriu o atletismo paraolímpi­co em um projeto do município de sua cidade natal há quatro anos, cujas ambições miram medalhas paraolímpi­cas.

“Não sei como consegui dar essa virada em minha vida. Realmente, vivia descrente, com muitas complicaçõ­es, dores, sofrimento e limitações”, comentou Rocha, que é casado e pai de três filhos.

“O acidente serviu para abrir os olhos. Ver que não se pode desistir”, disse. NA TV Mundial paraolímpi­co SporTV 3

 ?? Ivo Felipe/CPB ?? André Rocha em treinament­o em Londres para o Mundial
Ivo Felipe/CPB André Rocha em treinament­o em Londres para o Mundial

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil