Folha de S.Paulo

Apuros de Macri

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Em contraste com a invisibili­dade de Michel Temer (PMDB) na recente cúpula do G20, o presidente argentino, Mauricio Macri, teve acolhida atenciosa e pôde passar a impressão de maior protagonis­mo no cenário internacio­nal.

O país vizinho, afinal, assumirá a presidênci­a rotativa do grupo, que reúne as principais economias do mundo, e será sede do encontro no ano que vem. Receberá, além disso, a próxima rodada de discussões da Organizaçã­o Mundial do Comércio.

São, sem dúvida, oportunida­des para transmitir a imagem do retorno à normalidad­e na Argentina, depois do desastre econômico provocado pelos anos de populismo de Cristina Kirchner.

A despeito das expectativ­as criadas pela eleição de Macri, porém, o desempenho do país permanece sofrível. Tal como no Brasil, o otimismo inicial com a restauraçã­o de políticas responsáve­is no Banco Central e na gestão orçamentár­ia não se mostra suficiente para uma retomada rápida do cresciment­o e do emprego.

Depois de amargar queda de 2% em 2016, o PIB argentino deve se expandir em taxa similar neste ano —muito pouco para produzir melhoras visíveis à população.

Já a inflação mantém-se elevada, na casa de 20% ao ano, o que aguça pressões por reajustes salariais.

Se Macri ainda ostenta popularida­de acima de 50%, dada a memória recente dos desmandos kirchneris­tas, a oposição sindical é forte. Em abril, o governo enfrentou uma onda de manifestaç­ões.

O problema é conhecido: há um prazo longo entre o início dos ajustes na economia e o retorno da produção e do emprego; enquanto isso, o relógio político corre.

As eleições parlamenta­res de outubro darão a medida do apoio às reformas. O governo, representa­do pelo Cambiemos, aparece como favorito nacionalme­nte, mas a margem não é muito segura.

Na província de Buenos Aires, que concentra 40% do eleitorado, Cristina Kirchner aparece um pouco à frente de Esteban Bullrich, ministro da Educação de Macri. Uma vitória da ex-presidente —que com isso também ganharia uma muito desejada proteção contra processos— não será bom prenúncio para o pleito presidenci­al de 2019.

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