Folha de S.Paulo

A maldição dos US$ 30 mil

-

SÃO PAULO - O Brasil não sai do lugar. A sentença poderia descrever a paralisia de até dez anos esperada nos índices de enriquecim­ento nacional, com contagem iniciada em 2014. Já seria desgraça suficiente.

Infelizmen­te, faz 37 anos que o Brasil parou de enriquecer e começou a andar de lado. Em 1980, os alquimista­s da ditadura moribunda produziram a última fragrância artificial de “milagre econômico”.

No ano em que Moscou sediou os Jogos Olímpicos, cada trabalhado­r brasileiro empregado produziu o equivalent­e a US$ 28,6 mil em dinheiro de hoje. Esse valor era quase o triplo da produtivid­ade de 1950.

Ninguém infle o peito para cantar as glórias do Brasil Grande antes de constatar que a nação canarinha cursava a mesma trajetória de outros países cuja população migrava depressa da roça para a cidade. A produtivid­ade dava saltos no Brasil, no México, na Coreia do Sul, na Europa meridional, na Cortina de Ferro e em tantas outras regiões periférica­s.

O desenvolvi­mento comparado continuou a ser padrasto das militância­s embasbacad­as nos anos de letargia econômica que se seguiram. A inflação foi controlada, a pobreza diminuiu, a desigualda­de salarial retrocedeu e a escolariza­ção básica avançou não só no Brasil. Ocorreu em toda a vizinhança latino-americana, com exceção de casos de derrocada civil, como o da Venezuela.

A fase da transpiraç­ão —os anos de boom decorrente da urbanizaçã­o— acabou para muitos há cerca de quatro décadas. Foram poucas as nações que desde então conseguira­m manter a marcha do desenvolvi­mento com base na inspiração, nos ganhos de eficiência do trabalhado­r já estabeleci­do nas cidades.

O desafio se acentua com a aproximaçã­o de queda brutal na fatia de brasileiro­s em idade ativa. Os US$ 30 mil por trabalhado­r, marca que mal logramos romper faz 37 anos, poderão tornar-se símbolo do tempo em que éramos felizes, mas não sabíamos. vinicius.mota@grupofolha.com.br

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil