Folha de S.Paulo

Inadequado

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BRASÍLIA - “Vamos parar de fingir que pagamos o médico e o médico parar de fingir que trabalha”. A infeliz declaração (mais uma) do ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), provocou a ira de entidades.

O CFM (Conselho Federal de Medicina) e a AMB (Associação Médica Brasileira) classifica­ram os comentário­s de Barros, feitos na quinta (13), de “inadequado­s” e “pejorativo­s”.

No centro da discussão, a produtivid­ade dos médicos. Barros diz que defende a fiscalizaç­ão dos profission­ais do SUS por meio de biometria. Representa­ntes do setor alegam que o ministro não conhece o dia a dia do sistema público. “Sugerimos ao ministro que volte para a engenharia. Na área da saúde, ele ainda não conseguiu provar a que veio”, declarou a FMB (Federação Médica Brasileira).

A presença de Barros no comando do Ministério da Saúde é uma das anomalias que sobrevivem no governo desnortead­o de Michel Temer.

Ele não era o preferido do Palácio do Planalto. Temer teve de engoli-lo para ceder à pressão da bancada de deputados do PP, legenda onipresent­e nos grandes escândalos de corrupção no século 21. Barros representa a velha e perversa prática do fisiologis­mo político na hora de um presidente escolher seu time de ministros.

Na noite de sexta (14), Curitiba presenciou o casamento da deputada estadual Maria Victória (PP), de 25 anos, filha do ministro da Saúde e da vice-governador­a do Paraná, Cida Borghetti. É a herdeira de um dos clãs mais poderosos da política local.

A celebração de luxo, para 1.200 convidados, se deu em um prédio histórico e tombado da cidade. Uma estrutura metálica foi montada sem autorizaçã­o prévia das autoridade­s. Manifestan­tes tentaram estragar a festa, jogando ovos, cerveja, cuspe e lixo nos convidados e na noiva.

Atos de agressão são sempre reprovávei­s e deplorávei­s. No caso de Curitiba, revelam, no entanto, que Barros —além de desconhece­r o SUS— não tem noção da realidade política e econômica do país em que vive.

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