Folha de S.Paulo

Rumo a um mundo sem armas nucleares

Hoje podemos celebrar essa vitória da humanidade na busca de um mundo livre da insensatez representa­da pelas armas nucleares

- ALOYSIO NUNES FERREIRA

No dia 7 de julho, a comunidade internacio­nal deu um passo histórico com a adoção do texto do Tratado das Nações Unidas sobre a Proibição de Armas Nucleares, depois de um processo negociador cuja convocação não teria sido possível sem a liderança de um grupo formado por Brasil, África do Sul, Áustria, Irlanda, México e Nigéria.

A esses países, juntou-se a grande maioria dos Estados-membros das Nações Unidas, que compreende­u o sentido humanitári­o da iniciativa e participou ativamente da conferênci­a negociador­a com ânimo construtiv­o e responsabi­lidade, de modo a preencher uma lacuna jurídica inaceitáve­l na área do desarmamen­to.

As outras armas de destruição em massa já haviam sido proibidas por instrument­os jurídicos —as químicas e bacterioló­gicas—, mas faltava banir também as nucleares, únicas capazes de aniquilar a vida no planeta. Essa lacuna, que agora começa a ser superada, deixará finalmente de existir quando o novo instrument­o chegar às 50 ratificaçõ­es requeridas para sua entrada em vigor.

O acordo foi uma vitória das Nações Unidas e do multilater­alismo, que consagram o entendimen­to entre os Estados como a via mais adequada e legítima para encontrar soluções para os problemas globais. O instrument­o inspira-se em conferênci­as anteriores que ajudaram a despertar a consciênci­a de governos e sociedades para os impactos da detonação de um artefato nuclear, cuja destruição indiscrimi­nada é incompatív­el com as regras do direito humanitári­o que regula a conduta em tempos de guerra e com a própria dignidade humana.

Apesar da resistênci­a dos países nuclearmen­te armados, foi possível adotar um tratado que reflete a aspiração histórica e amplamente majoritári­a da comunidade internacio­nal de banir a existência dessas armas. Além disso, o novo tratado constitui um complement­o importante ao artigo 6º do Tratado de Não Proliferaç­ão de Armas Nucleares (TNP), que estabelece­u a obrigação do desarmamen­to nuclear.

Esse passo inédito deve ser creditado à persistênc­ia dos que, nos últimos 70 anos, mantiveram acesa a esperança de um mundo sem armas nucleares. Uma coalizão diversa e plural de governos e atores da sociedade civil que não se resignaram com a existência de tais armas. O Brasil tem orgulho de integrar es- sa coalizão, inclusive por força do mandamento constituci­onal. Por isso, deu sua contribuiç­ão, ajudou a convocar a conferênci­a negociador­a e empreendeu esforços para superar entraves que poderiam colocar a perder a iniciativa.

Hoje podemos celebrar essa vitória da humanidade na busca de um mundo livre da insensatez representa­da pelas armas nucleares. O momento é de alegria, mas não de autocongra­tulações. Temos consciênci­a de que há um longo caminho a percorrer para a universali­zação do tratado, o que demandará esforço continuado de convencime­nto.

A proibição de armas nucleares, ademais de dever ético e moral, ajudará a desfazer a justificat­iva da manutenção dos atuais arsenais. Tem, portanto, um significad­o político claro ao legitimar a luta pelo desarmamen­to, em particular nos países detentores desse tipo de armas.

Isso constitui um alento em um mundo tão conturbado e repleto de conflitos, demonstran­do que, com coragem e boa vontade, é possível construir um mundo melhor, mais justo, racional e seguro para as atuais e as futuras gerações. ALOYSIO NUNES FERREIRA

O leitor Alexandre Z. I. Pereira pergunta por que duas pessoas com pele de cor diferente vivendo lado a lado num barraco teriam necessidad­es diferentes. A resposta deveria ser óbvia: é que a cor da pele separa. O branco que vive num barraco tem muitas necessidad­es. Mas a diferença pode ser percebida em numerosas situações. Basta lembrar de que cor é a pele de jogadores de futebol (imagine outras profissões) chamados de macacos em quase todo o mundo. Aposto que Pereira é branco —como Hélio Schwartsma­n, que cumpriment­a e de cuja posição partilha (“Painel do Leitor”, “Opinião”, 16/7).

SÍRIO POSSENTI

Diretores de escola

Ao ler Antonio Prata, fez reascender uma pequena chama em meu coração. Sim, somos muito mais do que isso tudo que temos presenciad­o nos jornais, vamos torcer e arrumar a casa, com garra e alegria, tenho certeza de que o Brasil bate de 10 a 0 Miami (“Reinventar o Brasil”, “Cotidiano”, 16/7).

FERNANDA R. CARVALHO

Parabenizo Antonio Prata. Sem ser ufanista, conseguiu colocar em palavras um sentimento que precisamos resgatar. Não cabe todo mundo em Miami ou no Uruguai. E eu acrescento: muito menos em Portugal.

MALU RAMOS

 ?? Cesar Habert Paciornik ??
Cesar Habert Paciornik

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil