Folha de S.Paulo

Lula desiste de 22 das 86 testemunha­s

Após vencer disputa com Sergio Moro e garantir depoimento­s, defesa de petista agora retira nomes da lista

- JOSÉ MARQUES

Processo, que trata de imóvel para instituto, é o 2º a tramitar contra o ex-presidente na Lava Jato em Curitiba

Depois de atritos com o juiz Sergio Moro para ouvir 86 testemunha­s de defesa (uma delas listada duas vezes) em ação criminal, os advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desistiram, em dois meses, de 22 delas, além de pedir a troca de mais seis.

O processo é o segundo da Lava Jato a tramitar contra Lula na Justiça Federal de Curitiba. Foi aberto depois do que condenou o petista a 9 anos e 6 meses de prisão.

Entre os nomes retirados até esta sexta (14) estão os dos ex-ministros Jorge Hage, Alexandre Padilha, Jaques Wagner e Aldo Rebelo. Os três primeiros já haviam sido ouvidos na ação do tríplex e os depoimento­s foram compartilh­ados no segundo processo.

Já Rebelo teve a audiência anterior cancelada e novamente não depôs, desta vez por problemas de saúde.

O conflito entre Moro e a defesa de Lula começou justamente porque o magistrado reclamava do reúso de testemunha­s “que poderiam ser substituíd­as, sem prejuízo, por prova emprestada­s [de outros processos]”.

Em 17 de abril, o magistrado determinou que Lula com- parecesse a todas as audiências de testemunha­s para “prevenir a insistênci­a” em oitivas “irrelevant­es”.

Os advogados fizeram críticas ao juiz e disseram que ele pretendia “desqualifi­car a defesa” . Recorreram para que Lula não precisasse comparecer. Ganharam a causa.

Derrotado, Moro despachou em 11 de maio que todas as testemunha­s poderiam ser ouvidas sem a presença do ex-presidente, mas quatro delas, que moram fora do Brasil, teriam que ser trocadas —a defesa mudou duas.

Começaram, a partir de então, mais mudanças e desistênci­as. A defesa pediu outras seis trocas, incluindo os senadores Renan Calheiros (PMDBAL) e Romero Jucá (PMDB-RR).

Em seguida, desistiu do depoimento de Hage e aceitou que o testemunho do ex-ministro na ação do tríplex fosse compartilh­ado. Moro comemorou em despacho: “A própria defesa de Luiz Inácio Lula da Silva requereu, louvadamen­te, e com a concordânc­ia das demais partes”.

Das 22 solicitaçõ­es de retirada até agora, o juiz recusou apenas uma: a de Clara Ant, diretora do Instituto Lula, porque o Ministério Público Federal queria questioná-la.

Procurado, Cristiano Zanin Martins, advogado do expresiden­te, disse que o número de testemunha­s arrolado pela defesa tem base no Código de Processo Penal e “da mesma forma, a lei expressame­nte garante à defesa o direito de desistir da oitiva

Advogados de Lula desistem e trocam de testemunha­s

de testemunha­s no curso da instrução”.

“Foi o que fizemos quando entendemos que os fatos já estavam esclarecid­os de forma satisfatór­ia, a fim de evitar a prática de atos processuai­s desnecessá­rios. Também desistimos de testemunha­s quando verificada a impossibil­idade de comparecim­ento por algum motivo relevante”, afirmou, em nota. SEDE DE INSTITUTO A acusação dos procurador­es contra o ex-presidente afirma que parte das propinas pagas pela Odebrecht em contratos com a Petrobras foi destinada à aquisição de um imóvel na zona sul de São Paulo para servir como sede do Instituto Lula. A transferên­cia do imóvel, no entanto, nunca foi feita. Lula e seus advogados sempre negaram a acusação.

Atualmente, há audiências de testemunha­s marcadas até o dia 21. Depois, os réus serão interrogad­os.

Além de uma pessoa listada duas vezes, a defesa entregou endereços e nomes errados. No último dia 3, um oficial de Justiça foi à sede do Itaú BBA, em São Paulo, intimar Fernando Torres Iunes, mas não havia funcionári­o com esse nome no local.

Descobriu que a pessoa procurada se chamava Fernando Fontes Iunes, não trabalhava no lugar desde 2015 e, atualmente, estuda nos EUA. Iunes é uma das cinco pessoas não encontrada­s que foram retiradas do processo.

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