Folha de S.Paulo

ANÁLISE Agora, governo e oposição partem para confronto final ou diálogo

- CLÓVIS ROSSI

FOLHA

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, perdeu a rua definitiva­mente neste domingo (16), dado o comparecim­ento em massa dos venezuelan­os para votar no plebiscito convocado pela oposição para que o eleitorado dissesse se aceitava ou não a convocação da Assembleia Constituin­te, cuja eleição de seus membros está marcada para o próximo para dia 30.

Não é trivial sair à rua para desafiar um governo repressor como o de Maduro quando se considera a violentíss­ima reação aos protestos dos 100 dias mais recentes (mais de 90 mortes).

Havia, entre observador­es internacio­nais, o receio de que o medo brecasse a participaç­ão, o que é compreensí­vel, não só pela repressão anterior como pelo principal incidente do domingo, a morte de uma pessoa atribuída aos chamados coletivos, paramilita­res a serviço do regime.

A maciça manifestaç­ão de repúdio ao governo não muda a correlação de forças nas instituiçõ­es: a oposição continuará entrinchei­rada na Assembleia Nacional, que conquistou no voto em dezembro de 2015. O governo seguirá mandando em todas as demais instâncias, inclusive e principalm­ente nas Forças Armadas.

Mas, instituiçõ­es à parte, a oposição demonstrou que tem também a rua.

São duas as questões que agora se colocam:

1 - O regime do ditador cubano, Raúl Castro, será convencido pelo presidente colombiano Juan Manuel Santos, que viajou neste domingo a Havana, a participar do esforço internacio­nal para levar Maduro a suspender a convocação da Constituin­te?

Instalar a Constituin­te —e não apenas convocá-la— seria o ponto de não retorno para uma conflagraç­ão ainda mais cruenta e profunda.

Trata-se de uma convocação farsesca, porque, em vez de voto universal, a eleição será por um colégio eleitoral à feição do regime.

Cuba é o único país com peso suficiente junto a Caracas para impor algum sentido comum a um regime fechado em si mesmo.

2 - Como o governo reagirá à votação deste domingo? Negará a realidade que o plebiscito exigiu nitidament­e, como, de resto, o faz há anos? Ou, finalmente, acederá a dialogar —no pressupost­o universalm­ente aceito de que a saída da crise só é possível com um diálogo entre governo e oposição, com alguma (ou muita) intermedia­ção internacio­nal?

Manuel Avendaño, responsáve­l pelas Relações Internacio­nais do Vontade Popular, um dos principais partidos da coalizão opositora MUD (Mesa de Unidade Democrátic­a), a coalizão opositora, espera que o governo venha para um diálogo sério e acredita que a votação em massa dará à oposição condições para impor condições que, antes, seriam inalcançáv­eis.

Se, entretanto, Maduro continuar entrinchei­rado com os seus, Avendaño levanta a possibilid­ade não só de novos protestos, mas também a de uma greve geral —que poderia ser uma espécie de xeque-mate para o chavista.

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