Folha de S.Paulo

Colômbia pede a Cuba que medeie crise venezuelan­a

Juan Manuel Santos tentará convencer Raúl Castro a participar de diálogo

- JOHN PAUL RATHBONE

Nobel da Paz viajou a Havana neste domingo; colombiano conhece bem líder comunista, Maduro e Trump

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, embarcou para Cuba na noite deste domingo (16) com a missão de convencer Havana a apoiar uma iniciativa regional para estancar a crise na Venezuela, que já deixa 95 mortos em protestos desde abril.

A iniciativa, que teria apoio da Argentina e do México, é controvers­a mas pode ser eficaz: como principal aliada da Venezuela, Cuba e seus serviços de inteligênc­ia trabalham de forma próxima com o presidente Nicolás Maduro.

“Santos é uma das poucas pessoas, talvez a única, que conhece bem os três envolvidos”, disse uma pessoa familiariz­ada com a situação. “Conhece Maduro e a Venezuela, Raúl Castro e Donald Trump e o Departamen­to de Estado.”

A iniciativa ocorre em um momento crítico para a Venezuela após Maduro propor a eleição de uma Constituin­te. Se a iniciativa regional for bem sucedida, o pleito em 30 de julho pode ser cancelado.

O cenário deve mudar também com o plebiscito opositor. Conforme o resultado, analistas dizem que Maduro pode mudar de ideia sobre a Carta.

“Se ele mantiver a eleição, ela será um novo ápice da crise política corrente e testará a lealdade das forças de segurança, já que a oposição deve mobilizar manifestan­tes em protestos significat­ivos”, disse Risa Grais-Targow, analista da consultori­a Eurasia.

Santos trabalhou com Havana, Washington e Caracas nos últimos seus anos nas negociaçõe­s de paz entre governo e as guerrilhas das Farc na Colômbia. Mas sua viagem a Cuba, parte de uma missão comercial marcada há tempo, também sinaliza a crescente preocupaçã­o internacio­nal com a Venezuela.

Na cúpula do G20 na Alemanha, o presidente argentino, Mauricio Macri, e o premiê espanhol, Mariano Rajoy, pediram a outros chefes de Estado que prestassem atenção na situação da Venezuela, “onde os direitos humanos não são respeitado­s”.

A crise secou as reservas internacio­nais do país. Dados divulgados na sexta (14) mostram que, pela primeira vez em 15 anos, as reservas do banco central venezuelan­o estão abaixo de US$ 10 bilhões. A queda deve realimenta­r temores de calote.

A companhia estatal de petróleo, PDVSA, precisa pagar juros e dívidas de US$ 3,7 bilhões no fim do ano.

Apesar dos temores, porém, pouco tem sido feito, com exceção de gestos dos EUA e do Brasil. Washington impôs sanções financeira­s a membros do governo do país, e o Brasil suspendeu as vendas de gás lacrimogên­eo.

Rex Tillerson, secretário de Estado dos EUA, disse em junho que estava listando indivíduos para serem alvo de mais sanções. Uma opção mais radical para os EUA, debatida em Washington, é suspender a venda de petróleo venezuelan­o no país.

Cuba seria um mediador atípico, já que recebe petróleo subsidiado de Caracas em troca de médicos. As relações com Washington também esfriaram após Trump recuar na reaproxima­ção com a ilha iniciada por Barack Obama.

Mas Havana pode oferecer proteção aos assessores mais próximos de Maduro.

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Ricardo Rojas/Reuters » MANCHA VERDE Manifestan­tes usaram a cor em Santo Domingo em protesto pela expulsão da construtor­a Odebrecht e contra o governo da República Dominicana

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