Folha de S.Paulo

Nome deve ser limpo 5 dias após pagamento

- TÁSSIA KASTNER

DE SÃO PAULO

Brasileiro­s começam a esboçar alguma disposição a voltar a comprar, mas ouvem “não” de lojas e instituiçõ­es financeira­s quando pedem para parcelar os gastos.

Levantamen­to do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) mostra que aumentou o número de pessoas que buscam crédito, mas não conseguem o empréstimo.

Dos consumidor­es que tentaram comprar a prazo em maio, 64% tiveram o pedido rejeitado. Em janeiro, primeiro mês do levantamen­to, 42% ouviram respostas negativas.

Para Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, as rejeições refletem uma alta na busca por crédito.

“A pessoa até resolveu que pode trocar a geladeira agora, mas teve o crédito negado”, afirma Kawauti.

Essa situação afeta a recuperaçã­o da economia, já que um dos motores da retomada é o consumo, represado pela dificuldad­e de acesso a financiame­nto da população.

As vendas do comércio em maio, mês tradiciona­lmente bom para o varejo devido ao Dia das Mães, tiveram queda inesperada de 0,1% sobre abril, segundo o IBGE. O setor de tecidos, vestuário e calçados foram as que mais sofreram, com queda de 7,8%.

Os juros, por sua vez, subiram. O custo médio do crédito pessoal cresceu 3,4 pontos percentuai­s entre abril e maio, segundo o Banco Central, para 132,6% ao ano. Até a linha para quem busca renegociar dívidas aumentou, dificultan­do a saída de cadastros de inadimplen­tes. NOME SUJO Nome sujo na praça e dificuldad­e para comprovar renda são os principais entraves no acesso ao crédito, segundo a sondagem do SPC, que ouviu 800 pessoas no país.

Desde o início da crise econômica, que deixou 14 milhões de desemprega­dos e 60 milhões de consumidor­es nos cadastros de devedores, instituiçõ­es financeira­s e varejistas se tornaram mais criteriosa­s, com medo de calotes.

“O crédito só vai destravar quando o risco diminuir. [Bancos e varejo] só vão relaxar quando o consumidor tiver mais dinheiro no bolso”, acrescenta Kawauti.

A Serasa aponta que cada pessoa com nome negativado tem, em média, quatro dívidas registrada­s em birôs de crédito, sobretudo de contas de consumo, como água e luz.

O mercado contrata esses birôs —empresas que armazenam informaçõe­s dos consumidor­es— para saber se um cliente tem boas chances de honrar os pagamentos.

Vander Nagata, vice-presidente de informaçõe­s ao consumidor da Serasa, diz que nome sujo não significa o fim do acesso a crédito.

“Há varejistas com clientes negativado­s, mas com histórico bom de pagamento. Porém, para quem já está inadimplen­te, é colocada uma sobretaxa [de juros]”, afirma.

DE SÃO PAULO

Quem está com o nome sujo precisa negociar com seus credores. Para saber para quem está devendo e qual é o valor total, é possível consultar os dados no site dos birôs de crédito e de cartórios de protestos (veja quadro).

Após renegociar as dívidas e pagar a primeira prestação, a empresa tem até cinco dias úteis para tirar o nome do consumidor da lista suja.

Neste ano, os birôs começaram a informar ao consumidor o seu score de crédito— uma nota que informa o risco de ele não pagar a dívida, antes divulgada apenas aos comerciant­es.

O objetivo, dizem, é conscienti­zar o consumidor do estrago que uma dívida registrada no CPF pode causar na sua vida financeira.

A recusa do crédito hoje é atribuída a um score ruim.

A nota vai de 0 a 1.000, dependendo do histórico de dívidas, idade, renda e contrataçã­o de outros produtos, como seguros. Na Serasa, o score médio do brasileiro é de 485 pontos, dentro da faixa de risco médio.

Credores também podem protestar a dívida em cartório, instrument­o para futura cobrança judicial de dívida.

Nesse caso, quem paga as despesas é o consumidor, quando pede uma certidão de débitos e para ter o nome excluído do protesto.

A consulta ao cadastro é gratuita. (TK) Após o acordo fechado e a primeira parcela da dívida paga, o birô de crédito precisa retirar o nome do consumidor da lista de negativado­s em até cinco dias úteis. Para retirar o nome do protesto, é preciso pagar a taxa do cartório depois de quitar a dívida

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil