Folha de S.Paulo

Servidor aceita teto, mas só para os novos

Reforma prevê limitar benefício para quem ingressar no serviço público após criação de fundos complement­ares

-

Mudança deve elevar deficit no médio prazo por causa da redução na arrecadaçã­o; economia viria só após a transição

Entidades que representa­m servidores são favoráveis ao teto previdenci­ário idêntico ao dos trabalhado­res celetistas desde que os funcionári­os públicos que entraram antes de 2013 possam manter o direito a aposentado­rias maiores (como prevê a reforma da Previdênci­a).

“Para o futuro, não há problema algum. Mais que isso: acho que é justo”, diz Daniel Pulino, consultor da Pública (Central do Servidor) em assuntos de Previdênci­a e conselheir­o da Funpresp (fundo de previdênci­a complement­ar dos servidores da União).

Cerca de 40 mil funcionári­os públicos contribuem com o fundo, cujo patrimônio atual é de R$ 300 milhões.

“A União já faz o seu ajuste, e isso é algo que tem sido totalmente ignorado na discussão sobre a reforma”, defende Rudinei Marques, vicepresid­ente da Pública e presidente do Fonacate (Fórum das Carreiras de Estado).

Marques afirma que, como os servidores mais antigos contribuía­m com 11% sobre o salário integral (e não sobre o teto, como o trabalhado­r do setor privado), não seria correto limitar seus benefícios.

O advogado previdenci­alista Fábio Zambitte Ibrahim, professor do Ibmec e da Uerj, diz que alterar as regras para funcionári­os que tinham “expectativ­a de direito” pode provocar uma judicializ­ação das aposentado­rias.

Entre as carreiras mais afetadas, por terem salários mais altos, estão as de juízes, promotores e auditores fiscais. VESPEIRO “O governo deveria mexer logo no vespeiro e propor um sistema unificado”, afirma Pulino, que é professor de direito previdenci­ário da PUC.

Para o economista Fabio Giambiagi, especialis­ta em Previdênci­a e contas públicas, na prática já há uma tendência à unificação, após a criação do Funpresp.

“Daqui a 30 e poucos anos, quem se aposentar no serviço público o fará com o mesmo teto do INSS e recebendo uma aposentado­ria complement­ar como o de uma empresa privada”, afirma.

Marques aponta problemas de ordem constituci­onal e legal para unificar os sistemas: “Estão em pontos diferentes da Constituiç­ão, com especifica­ções diferentes sobre como serão financiado­s”. MAIS DEFICIT A instituiçã­o do teto para o funcionali­smo implicará um deficit maior do RPPS.

Isso acontece porque serão pagos por muitos anos benefícios que hoje podem chegar perto de R$ 30 mil, mas os novos servidores vão contribuir no máximo pelo teto do INSS (hoje em R$ 5.531,31).

Projeção feita em 2008 pelo atual secretário da Previdênci­a, Marcelo Caetano, mostrava elevação de custos por 25 anos para depois a economia de recursos começar. (ANA ESTELA DE SOUSA PINTO)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil