Folha de S.Paulo

Doria lança parque Augusta

- LEÃO SERVA COLUNISTAS DESTA SEMANA segunda: Leão Serva; terça: Rosely Sayão; quarta: Francisco Daudt; quinta: Sérgio Rodrigues; sexta: Tati Bernardi; sábado: Oscar Vilhena Vieira; domingo: Antonio Prata

A PREFEITURA de São Paulo anuncia no dia 4/8 o acordo para a criação do parque Augusta. As empresas proprietár­ias da área, na esquina da Augusta com Caio Prado, vão receber em troca o terreno onde fica a prefeitura regional, a unidade da CET em Pinheiros e outros serviços públicos, na esquina da rua Sumidouro com marginal Pinheiros.

Um movimento da sociedade civil ficará feliz e uma grande área verde no centro da cidade será preservada e ganhará mais árvores. É o fim de uma novela na vida de São Paulo, iniciada no final da década de 1970.

O epílogo (anunciado pela colunista Mônica Bergamo no sábado, 15/7) levou quatro décadas. O acordo foi fechado depois de três meses de negociação entre Executivo municipal, as duas empresas e o Ministério Público.

Há vários bons resultados, que merecem elogios: 1) nasce um parque no centro; 2) a prefeitura privatiza e mobiliza uma área subutiliza­da em Pinheiros; 3) pelo acordo, as empresas também vão cuidar da área na rua Augusta e transformá-la em parque; 4) vão adotar por dois anos a praça Victor Civita, que está sem padrinho desde o começo de 2016; 5) vão criar um centro de atendiment­o para 250 moradores de rua e 6) uma creche para 200 crianças. É uma lista parruda de contrapart­idas.

O maior sinal positivo é o acordo em si: resolveu em três meses um enrosco de 40 anos. Mostra capacidade de articulaçã­o do poder público Troca vai incluir atendiment­o para moradores de rua, adoção de praça e creche. Só falta incluir moradia popular numa época bicuda em que políticos estão desacredit­ados e os cofres públicos vazios.

“E todos felizes”, concluiu o prefeito João Doria à coluna no sábado.

“Todos” menos este colunista. Acho que faltou falar de habitação popular. A cidade de São Paulo necessita desesperad­amente de moradias e precisa criar soluções inovadoras para se libertar do modelo do projeto federal Minha Casa Minha Vida (“Meu fim de mundo”), que gera apartheid social em guetos distantes. Onde houver um terreno central, a primeira pergunta deve ser como encaixar um projeto de casas populares com boas condições de vida.

Sem saber da negociação envolvendo o parque Augusta, na quinta-feira (13) o Conselho Participat­ivo de Pinheiros promoveu um debate sobre o destino da área da prefeitura regional. O terreno foi incluído em processo de privatizaç­ão previsto em lei enviada pelo prefeito à Câmara, em 21 de junho, que prevê a venda de todos os terrenos municipais maiores que 10 mil m². Mas o projeto só menciona explicitam­ente o de Pinheiros. Ao falar à coluna, João Doria desconheci­a a referência ao terreno no projeto de lei. Não é grave: basta um vereador fazer uma emenda tirando o anexo, uma vez que a área, agora, já tem destino.

Quando comecei a escrever este texto, antes de saber da permuta, ia propor que o terreno de Pinheiros incluísse moradias de baixa renda. A iniciativa privada já fez na área bons prédios de classe média alta. O lugar é valorizado, ao lado da praça Victor Civita, com acesso a transporte­s públicos e uma zona fervendo de restaurant­es e bens culturais.

Um conjunto habitacion­al com concepção nova, pluralidad­e de classes e sem dimensões gigantesca­s, pode ser um exemplo para o país que vive refém do modelo perverso e demagógico criado por Lula para eleger Dilma.

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