Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O STF deve reabrir debate sobre o uso de grampo clandestin­o

Ministros defendem retomar discussão, já que corte tem nova composição

- CAMILA MATTOSO LETÍCIA CASADO

Tema veio à tona depois que Joesley Batista gravou diálogo com Temer e usou áudio para fechar delação

O STF (Supremo Tribunal Federal) deve retomar a discussão sobre a legalidade de gravações sem autorizaçã­o judicial após o caso de Joesley Batista, da JBS.

O empresário gravou um diálogo entre ele e o presidente Michel Temer em março deste ano e usou o áudio para fechar um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal.

Quatro ministros ouvidos pela reportagem afirmam que, apesar de a atual jurisprudê­ncia do tribunal reconhecer a legalidade da autogravaç­ão —feita por um dos interlocut­ores da conversa, não por terceiros —, a corte deve voltar ao tema.

Eles destacam que a composição do plenário mudou desde o último debate, em 2009. A discussão pode ser decisiva para Temer.

Em documento entregue à CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça), os advogados do presidente separaram algumas páginas para argumentar que o áudio de Joesley é uma prova ilícita.

Para a defesa de Temer, por ser uma prova ilícita, não poderia ser admitida no processo penal, uma vez que violou as garantias da intimidade e da vida privada.

“Sempre é oportuno qualquer exame. Hoje o colegiado tem outra composição e certo filósofo disse que somente os mortos não evoluem. Vamos aguardar”, disse à Folha o ministro Marco Aurélio Mello.

Ele foi voto vencido em 2009, quando a corte reafirmou jurisprudê­ncia no assunto e fixou que é admissível o uso, como meio de prova, de gravação ambiental realizada por um dos interlocut­ores. Naquele ano, os ministros julgaram um recurso de uma pessoa que usou uma gravação como prova em sua defesa.

Na ocasião, 6 dos atuais 11 ministros já faziam parte da composição do Supremo: Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowsk­i e Celso de Mello, além de Marco Aurélio.

Todos, com exceção de Marco Aurélio, tiveram o mesmo entendimen­to. “Continuo convencido de que é uma prova ilícita. A Constituiç­ão exige que haja ordem judicial. É preciso reinar a confiança. Tempos estranhos”. NOVO QUADRO O ministro Gilmar Mendes contestou a gravação de Batista recentemen­te em plenário, em meio à discussão sobre a delação premiada da JBS. Ele afirmou à Folha que o assunto terá de ser revisto.

“Vamos ter que analisar a questão novamente. Nova composição, novo quadro”, disse Gilmar, que em 2009 votou pela legalidade da autogravaç­ão.

A defesa de Temer destaca que “a situação concreta em debate parece não ter sido objeto de apreciação nos julgamento­s anteriores”.

O STF entende que uma gravação realizada por um dos interlocut­ores sem conhecimen­to do outro é válida e que a gravação ambiental é lícita. A jurisprudê­ncia do tribunal considera ilícita as gravações rio à denúncia, ou seja, favorável ao peemedebis­ta.

O próximo passo é a votação do tema no plenário da Câmara, que está marcada para o dia 2 de agosto. Somente se os deputados derem aval, o STF vai decidir se acolhe a acusação feita pelo procurador-geral, Rodrigo Janot.

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Mateus Bonomi - 21.jun.2017/AGIF O empresário Joesley Batista, da JBS, que gravou Temer

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