Trump ataca seu secretário da Justiça
Presidente culpa Jeff Sessions por supostos laços de equipe com a Rússia serem alvo de investigador especial
Republicano afirma que se arrepende de tê-lo indicado; assessor diz que ficará no cargo enquanto for propício
A um dos jornais que mais critica, o “New York Times”, o presidente Donald Trump verbalizou o que há muito se especulava: sua decepção com o secretário de Justiça, Jeff Sessions. Segundo Trump, ele jamais teria indicado Sessions se soubesse que ele se afastaria das investigações da suposta interferência da Rússia nas eleições.
“Como você pega um emprego e depois se recusa [a trabalhar]? Se ele tivesse recusado antes o trabalho, eu teria dito: ‘Obrigado, Jeff, mas não vou ficar com você’”, afirmou o presidente em entrevista publicada pelo “Times”.
Segundo Trump, Sessions foi “extremamente injusto” com ele ao aceitar o cargo sabendo que não poderia comandar aquela investigação. Menos de um mês após tomar posse, o secretário de Justiça, a quem o FBI (polícia federal americana) responde, anunciou que estava se afastando da investigação sobre Rússia.
Sessions se declarou impedido depois de a imprensa americana revelar que ele havia se reunido duas vezes com o embaixador russo em Washington, Sergei Kislyak, durante a campanha de 2016.
Nesta quinta (20), o secretário de Justiça disse ter intenção de continuar no cargo “enquanto for apropriado”.
“O trabalho que estamos fazendo hoje é o tipo de trabalho que queremos continuar fazendo”, afirmou, durante uma entrevista coletiva para falar de outro tema. “Estou totalmente confiante que podemos continuar trabalhando de forma efetiva.”
Questionada se o presidente ainda tinha confiança em Sessions, a vice-porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, disse que, se não tivesse, o secretário não estaria no cargo.
“Ele tem confiança [em Sessions] ou ele não seria o secretário de Justiça”, disse, respondendo ainda que se Trump quisesse que Sessions renunciasse ao posto “ele teria deixado isso claro”. INVESTIGADOR ESPECIAL Em junho, funcionários do governo haviam informado à ABC News e ao “Washington Post” que o secretário tinha apresentado sua carta de renúncia a Trump e deixado o cargo à disposição diante da tensão. O presidente não aceitou, naquela ocasião.
A decisão de Sessions de se afastar da investigação sobre a atuação russa nas eleições e a suposta ligação de membros da campanha com Moscou desagradou o presidente, principalmente porque ela abriu o caminho para a nomeação de um investigador independente.
Como Sessions não poderia comandar a investigação, seu número dois, Rod Rosenstein, assumiu a tarefa.
Em maio, uma semana após a demissão do então diretor do FBI, James Comey, por Trump, Rosenstein atendeu à forte pressão de democratas e até de republicanos e nomeou o ex-diretor do FBI Robert Mueller para supervisionar, de forma independente, a investigação. A decisão de indicar um conselheiro especial pegou Trump e Sessions de surpresa.
Na entrevista ao “Times”, Trump também criticou Rosenstein, sugerindo que ele fez um jogo duplo ao recomendar a demissão de Comey e depois indicar Mueller como conselheiro especial.
Segundo a mídia americana, Mueller está investigando Trump por possível obstrução da Justiça diante das acusações de Comey.
E o conselheiro agora estaria atrás de transações de empresas da Organização Trump para saber se houve conluio da campanha do republicano com a Rússia para prejudicar Hillary Clinton.
“Eu acho que seria uma violação. Veja, isso é sobre a Rússia”, disse Trump ao ser questionado na entrevista do “Times” se Mueller estaria avançando o sinal ao investigar empresas da sua família.
A vice-porta-voz da Casa Branca, porém, disse que o presidente “não tem intenção” de demitir Mueller.
Apesar de a insatisfação de Trump com Sessions não ser novidade, a declaração do presidente sobre aquele que é descrito como um dos mais leais membros de seu gabinete gerou um sentimento de apreensão entre assessores na Casa Branca.
Um funcionário do governo disse à rede CNN que, se o secretário de Justiça foi criticado abertamente desta forma pelo presidente, “pode acontecer com qualquer um”. Estados Unidos, Jeff Sessions, recebeu nesta quintafeira (20) o ministro da Justiça brasileiro, Torquato Jardim, que está em Washington para discutir parcerias em tecnologia de segurança entre os dois países. Com o Escritório de Armas, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos dos EUA, Torquato assinou um acordo de treinamento de agentes brasileiros para rastrear armas.