Folha de S.Paulo

A batalha de Pirro

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BRASÍLIA - Daqui a 11 dias o plenário da Câmara deve abrigar uma votação capital para o ocupante da cadeira presidenci­al, quase 16 meses depois daquela que praticamen­te selou a saída de Dilma Rousseff.

Em abril de 2016, 367 dos 513 deputados votaram a favor do impeachmen­t da petista. No próximo dia 2, será preciso o apoio de pelo menos 342 deles para que a denúncia contra Michel Temer siga seu curso.

Há uma similarida­de evidente nos dois casos, a minúscula popularida­de de ambos os alvos, Dilma e Temer.

De diferente, hoje não vemos grandes mobilizaçõ­es de rua, e o peemedebis­ta ainda conta com uma base de apoio razoável no Congresso — além de não ter em seus calcanhare­s, por ora, uma aliança política efetiva e pública para ocupar a sua cadeira.

No futebol há uma consideráv­el ala de pensadores que minimiza o valor do futebol-arte e advoga a tese de que o que importa é a vitória, mesmo que seja de meio a zero, com gol nos acréscimos, de mão e impedido.

Renan Calheiros (PMDB-AL) certa vez comparou Temer a Dunga —depois acabou se desculpand­o com o ex-técnico da seleção—, mas o presidente da República não tem mais, para sua infelicida­de, a opção de recorrer ao futebol de resultados.

É fato que ele precisa ter ao seu lado apenas 172 deputados. Parece ter, neste momento, mais do que isso, algo em torno de 250. Mas a elasticida­de do placar do dia 2 é quase tão importante quanto a decisão em si.

Barrada a denúncia por margem pouco folgada, o presidente ganhará fôlego apenas para capitanear a degringola­da ladeira abaixo, já que ficará evidente, inclusive para os que hoje ainda o sustentam, a fragilidad­e para aprovar projetos de interesse do governo e para enfrentar as novas denúncias que se avizinham.

Se não reunir apoio próximo a 300 votos (mudanças na Constituiç­ão exigem ao menos 308), o possível êxito do dia 2 pode representa­r para Temer apenas o que as vitórias sobre os romanos significar­am para Pirro.

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