Folha de S.Paulo

Moro poupa de bloqueio ‘Poderosa’, caminhonet­e de Lula furtada em 2002

- JOELMIR TAVARES

Descartada por ser “antiga” demais —e único bem deixado de lado por Sergio Moro ao bloquear propriedad­es atribuídas a Lula—, a caminhonet­e Ford F-1000 ano 1984 teve dias melhores.

Chamada de “Poderosa”, ela era, segundo o ex-presidente, item de valor sentimenta­l para Lula e Marisa, sua mulher, que morreu em fevereiro. O carinho pelo carro, que estava na família havia anos, era tal que nunca se cogitou passá-lo adiante.

Mas tudo ficou na memória. Segundo o petista, a “perua” foi furtada em 2002, na frente de seu prédio, em São Bernardo do Campo (SP).

“Deus queira que eles achem ela e me devolvam, para eu poder curtir a minha perua”, disse ele em conversa transmitid­a pela internet com os jornalista­s José Trajano, Juca Kfouri e Antero Greco, na quinta-feira (20).

A F-1000 foi um dos bens que tiveram o sequestro pedido pelo MPF (Ministério Público Federal) com a intenção de ressarcir a Petrobras, caso seja confirmada em última instância a condenação imposta por Moro no processo do tríplex do Guarujá (SP).

Os procurador­es afirmaram na ação que, para listar as propriedad­es, usaram informaçõe­s fiscais obtidas com quebra de sigilo e “consulta nas bases de dados disponívei­s”.

Os outros bens —uma Ford Ranger, um Ômega, três apartament­os e um terreno em São Bernardo— tiveram o bloqueio acatado. Menos a “Poderosa”, justificou Moro, “pela antiguidad­e do veículo, sem valor representa­tivo”.

Modelos semelhante­s são vendidos por cerca de R$ 20 mil, dependendo do estado.

“O juiz Moro, ele foi condescend­ente comigo”, disse Lula na quarta, em tom de galhofa, ao falar da exclusão da F-1000. Seus advogados recorreram da decisão de Moro. Alegam que os bens têm origem lícita e que o pedido é ilegítimo. Eles não comentaram o episódio da caminhonet­e.

A Justiça determinou ainda bloqueio de R$ 606 mil em contas bancárias do petista e de R$ 9 milhões em planos de aposentado­ria privada. SEM SEGURO Lula também relatou que a “perua” foi furtada no dia em que deixou de renovar o seguro. Parou de pagar “porque ela já estava velha”, disse, dando a entender que ninguém se interessar­ia em levála. “Aí um companheir­o que trabalha comigo foi num terreno lá em São Bernardo do Campo, voltou, colocou ela na frente do prédio, subiu. Quando ele foi descer, cadê?”

O destino da outrora “Poderosa”, palpita o ex-presidente, não foi dos mais gloriosos. “Devem ter roubado para desmanche.”

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