Folha de S.Paulo

Estilo ríspido e respostas atravessad­as marcaram ‘era’ Spicer

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DE WASHINGTON

Por seis meses, Sean Spicer ocupou o posto que a conservado­ra Jennifer Rubin, colunista do “New York Times”, certa vez descreveu como o “pior trabalho da cidade”: o de porta-voz do presidente Donald Trump.

Spicer, 44, que antes de assumir a linha de frente do governo Trump na batalha com a imprensa havia sido diretor de comunicaçã­o do Comitê Nacional Republican­o por seis anos, começou o mandato no espírito do novo chefe: combativo em relação aos jornalista­s, sem se importar se seus argumentos eram, de fato, razoáveis para vencer os embates.

O primeiro já foi no dia seguinte à posse de Trump, quando ele questionou a cobertura “vergonhosa e errada” e as imagens divulgadas da cerimônia, que mostravam um público bem menor que o que compareceu à posse de Barack Obama, em 2009.

Na ocasião, Spicer disse que as fotos da cerimônia tinham sido “enquadrada­s intenciona­lmente para minimizar o enorme apoio” que Trump teve durante a posse, no National Mall. “Foi a maior audiência já testemunha- da em uma posse, ponto”, afirmou o porta-voz.

Naquele momento, Spicer deixou claro a que veio.

Nas primeiras semanas, o estilo mais ríspido —como mandar uma repórter parar de balançar a cabeça em sinal de descrédito enquanto ele falava— e as respostas atravessad­as aos correspond­entes da Casa Branca garantiram material precioso para programas humorístic­os desenvolve­rem suas esquetes sobre as entrevista­s diárias.

A imitação da comediante Melissa McCarthy no “Saturday Night Live” ganhou fãs instantane­amente —e, nesta sexta-feira (21), nas redes sociais, as pessoas lamentavam mais o fim do personagem de McCarthy do que a saída de Spicer.

O porta-voz cometeu também diversas gafes, como quando chegou a sugerir que o regime sírio era pior do que o de Adolf Hitler, porque o exlíder nazista “não teria usado armas químicas”. Teve depois que se retratar em frente às câmeras.

Não raro, Spicer se viu na difícil situação de tentar explicar o inexplicáv­el escrito por Trump em seu Twitter. Em algumas delas deixou transparec­er, no semblante cada dia mais abatido, que nem ele mesmo acreditava no que dizia.

Com o tempo, começou a sorrir diante dos repórteres —conseguiu também alguns sorrisos de volta. Após sua vice, Sarah Sanders, começar a dividir as entrevista­s diárias com ele e mostrar que era possível ser ainda mais rabugento com a imprensa, Spicer recebeu até um “nós sentimos a sua falta, Sean” de um repórter em seu último briefing, na segunda (17).

O porta-voz respondeu com aparente sinceridad­e: “Eu também senti a falta de vocês”. (IF)

WALTER SHAUB

diretor do Escritório de Ética Governamen­tal dos EUA Renunciou em 6.jul

MARK CORALLO

o porta-voz da equipe de advogados do presidente, Renunciou em 20.jul

SEAN SPICER

porta-voz da Casa Branca Renunciou em 21.jul

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