Folha de S.Paulo

Médicos reforçam pressão para que veto seja mantido

-

DE SÃO PAULO

Preocupado­s com o rápido avanço no exterior da nova geração de produtos para fumantes, médicos enviaram à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) uma carta pedindo que seja mantida a resolução que proíbe dispositiv­os eletrônico­s.

“Não há evidências científica­s conclusiva­s que sustentem a defesa dos dispositiv­os eletrônico­s que liberam nicotina para consumo de nossa população”, diz documento encaminhad­o à agência na terça-feira (11) pela AMB (Associação Médica Brasileira).

Para Alberto José de Araújo, integrante do Instituto de Doenças do Tórax da UFRJ (Universida­de Federal do Rio de Janeiro) e da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologi­a e Tisiologia), a eventual entrada dos produtos põe em risco uma trajetória bem sucedida de redução do tabagismo no Brasil.

Em 1989, 35% da população brasileira fumava. No ano passado, o índice caiu para 10,2%, segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde nas capitais do país.

Araújo ressalta que os novos produtos geram dependênci­a da mesma forma que o cigarro tradiciona­l, por causa da nicotina.

Em relação ao tabaco aquecido, afirma, há ainda uma carência de estudos científico­s independen­tes. Segundo ele, há apenas um que não foi financiado pela indústria.

Publicado por três pesquisado­res de universida­des suíças neste ano, o trabalho identifico­u a presença de substância­s tóxicas no produto, assim como ocorre no cigarro tradiciona­l.

Parte delas, de fato, tinha concentraç­ões menores que as dos produtos convencion­ais, mas os níveis de acroleína eram similares e os de acenafteno, quase três vezes maior. As duas substância­s estão associadas a problemas nos fígados e rins, além de tosse e bronquite. DADOS Presidente da ONG ACT Promoção da Saúde, Paula Johns, considera que outra preocupaçã­o é a falta de dados suficiente­s sobre os efeitos desse produto em longo prazo. “No caso do cigarro tradiciona­l, temos evidências coletadas ao longo de décadas em larga escala populacion­al”, afirma.

Na avaliação dela, o argumento da indústria do fumo de que esses produtos fazem menos mal lembram o apelo dos cigarros “light”, com menor nível de alcatrão.

Ao longo dos anos, provouse que eles faziam tão mal quanto os outros, e as empresas foram proibidas de usar o adjetivo nos rótulos.

Ex-diretor da Anvisa e res- ponsável pela proibição dos cigarros com sabor, Agenor Álvares, também rechaça o discurso de que os novos produtos podem trazer uma redução de danos.

Para ele, se entrarem no Brasil, eles podem atrair justamente quem não fuma.

“As empresas estão preocupada­s porque a prevalênci­a dos fumantes está caindo no mundo todo, então estão buscando alternativ­as”, afirma Álvares. (AP)

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil