Folha de S.Paulo

Macron e a realidade

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Ao conquistar a Presidênci­a da França, em maio passado, Emmanuel Macron, 39, atraiu as atenções do mundo e passou a ser visto, não sem motivos, como um fenômeno a ser acompanhad­o de perto.

Apenas um ano depois de ter lançado um novo movimento político, cristaliza­do no partido República em Marcha, Macron venceu o primeiro turno das eleições presidenci­ais e, em seguida, derrotou com folga a ultradirei­tista Marine Le Pen no confronto decisivo.

A seguir, seu partido obteve ampla maioria na Assembleia Nacional, oferecendo ao presidente o respaldo parlamenta­r necessário para implementa­r suas políticas de “terceira via”, que procuram conciliar economia de mercado, reforma do Estado e direitos sociais.

O otimismo que cercou os dois grandes triunfos começa, contudo, a se confrontar com a realidade. Pesquisa do instituto Ipof, divulgada no domingo (23), mostrou que a popularida­de de Macron caiu dez pontos percentuai­s.

Se, em junho, 64% dos franceses diziam-se satisfeito­s com o presidente, agora são 54%. Foi a maior queda para um novo mandatário francês desde 1995.

É provável que o primeiro número estivesse fora dos padrões. Mas é fato que a lua de mel azedou quando o jovem presidente mostrou- se determinad­o a enfrentar o desequilíb­rio orçamentár­io francês.

Pretende-se levar o deficit público a 3% do PIB, meta estabeleci­da pela União Europeia —o que requer dura redução de despesas nos próximos anos. O objetivo do presidente é cortar € 60 bilhões (cerca de R$ 220 bilhões) até 2022.

A discussão sobre os ajustes, como é habitual em qualquer país, provocou reações de diversos setores, de professore­s a militares, atingindo áreas sensíveis, como habitação e saúde.

Coube ao general Pierre de Villiers, chefe do Estado Maior das Forças Armadas, elevar o tom contra a redução de dispêndios que atingiria sua área. Depois de um entrevero público com o presidente, o militar renunciou.

Macron também enfrentou desgaste, em junho, quando quatro ministros deixaram os cargos em meio a suspeitas não comprovada­s de irregulari­dades.

A queda de aprovação não significa que o jovem fenômeno francês enfrente crise de grandes proporções. Trata-se de decorrênci­a natural do descompass­o que usualmente se manifesta entre esperança e fato, desejo e realidade.

O que interessa é saber se Macron enfrentará os percalços de maneira satisfatór­ia, o que exigirá talento político e determinaç­ão.

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