Folha de S.Paulo

Reajustes em xeque

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BRASÍLIA - O presidente Michel Temer terá a chance de corrigir seu primeiro grande erro na área econômica: o reajuste concedido a servidores no momento em que buscava apoio para garantir o afastament­o definitivo de Dilma Rousseff. A revisão está em discussão no governo, que define nos próximos 30 dias a proposta orçamentár­ia de 2018.

Há aumentos aprovados pelo Congresso e sancionado­s pelo Executivo previstos para 2018 e 2019. O adiamento da medida em seis meses, por exemplo, pode gerar uma economia próxima da arrecadaçã­o prevista com a tributação adicional dos combustíve­is, anunciada recentemen­te, de cerca de R$ 10 bilhões.

Destaque-se que o reajuste previsto de 6,5% é quase o dobro da inflação estimada para o fim deste ano.

No início do governo FHC, a despesa com pessoal comprometi­a 54% da receita líquida da União, percentual que caiu pela metade (27%) até os primeiros anos da gestão Lula.

Os generosos aumentos concedi- dos desde então aumentaram esse comprometi­mento para quase 40%.

No Executivo, a renda média dos servidores civis supera R$ 10 mil. Algumas carreiras têm salário inicial superior a isso. No Ministério Público da União, que reivindica uma correção de 16%, a média é de R$ 16.280, valor próximo do verificado no Legislativ­o e no Judiciário.

No Rio de Janeiro, servidores estão sem receber salário, pois o Estado não tem autorizaçã­o para se endividar sem aval da União. Na esfera federal, sempre há como pagar, por meio de mais endividame­nto, jogando a conta para o restante da sociedade.

O principal entrave para uma renegociaç­ão será a resistênci­a de sindicatos do funcionali­smo, que já se mobilizam com ameaças de greve, além de conseguir o apoio do Congresso, sobre o qual os servidores têm forte influência, na véspera do ano eleitoral. São duas forças que o governo fragilizad­o de Temer tem evitado contrariar.

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