Folha de S.Paulo

Garantia de vigilância e continuida­de

- RICARDO RIBEIRO saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Com raízes na América do Norte, o instituto da estabilida­de no serviço público brasileiro esteve presente praticamen­te em todas as cartas constituci­onais. Não ficou, contudo, inerte à evolução da administra­ção pública.

A estabilida­de de hoje, em nosso arcabouço legislativ­o, passou por um processo de aprimorame­nto e relativiza­ção, adequando-se aos novos tempos. Não se admite mais uma gestão da coisa pública sem transparên­cia e comprometi­mento com a entrega de serviços efetivos.

Essa evolução está em sintonia com a atual sociedade cidadã. A pressão da opinião pública, a cobertura da imprensa e a atuação das próprias entidades de classe dos servidores têm criado um novo ambiente de forma gradativa.

O servidor é o primeiro interessad­o na mudança do atual estado das coisas. Deseja melhor estrutura, melhores condições e espera uma profission­alização maior na hierarquia.

Entretanto, a garantia de que o servidor não possa ser dispensado sem razão é um dos eixos da democracia.

Em uma sociedade liderada pelo Estado, um dos primeiros desafios é não permitir que este mesmo Estado seja sequestrad­o por grupos de interesse privado. A estabilida­de do servidor é a premissa de vigilância e continuida­de.

Um corpo funcional demissível por qualquer razão nunca promoverá políticas de Estado, mas sim políticas de governo, que podem mudar a cada gestão, de acordo com interesses partidário­s. A permanênci­a do funcionári­o é a garantia de que o capital de conhecimen­to permanecer­á na estrutura pública, evoluindo de gestão para gestão.

No setor privado é comum ouvirmos que o mais importante é o capital humano. Por que seria diferente no setor público?

Hoje já sentimos de maneira mais clara os efeitos de um Estado em que as estruturas foram politizada­s. Ao invés de a meritocrac­ia guiar os processos de seleção, muitas vezes os postos de comando são distribuíd­os de modo a atender interesses de grupos partidário­s e privados.

Quanto mais cargos passíveis de rotativida­de e demissão sem justificat­iva, mais o espírito público daquela repartição torna-se distorcido e duvidoso.

Seria de fato condição para maior eficiência permitir mais janelas de oportunida­de para o adensament­o da influência direta dos interesses escusos dentro da estrutura pública? Permitir demissões de quem incomoda, de quem fiscaliza, de quem controla, de quem audita e de quem policia?

O servidor público é um dos principais interessad­os em políticas de meritocrac­ia e modelos gerenciais melhores. Somente concursado­s sob a ética de servir ao país poderão alcançar mais cargos de comando e dar sentido às carreiras de Estado.

Hoje já se permite punição e expulsão por má conduta. Inoperânci­as podem ser combatidas com processos disciplina­res. Com a legislação e as condições atuais, podemos conquistar bons resultados caso tenhamos reciclagem das lideranças políticas, aumento da transparên­cia e monitorame­nto.

Querer que o Estado funcione às custas de vontades e caprichos de cada governante, mudando o quadro de pessoal e demitindo a seu bel prazer, significa abrir mão de uma estrutura estável e profission­alizada, comprometi­da com o bem comum.

Sim, de fato precisamos melhorar a estrutura pública e suas competênci­as e capacidade­s. Não será, entretanto, pregando o fim da estabilida­de que isso será alcançado. RICARDO RIBEIRO,

Kim Kataguiri relata que a população pobre não tem acesso às universida­des públicas devido ao nível ruim do ensino básico na rede pública. Porém sugere a criação de bolsas para crianças pobres em escolas particular­es. Isso é totalmente incoerente. O que tem que ser feito é melhorar a qualidade do ensino público, para que todos possam ter as mesmas chances de acesso às universida­des. Não podemos dar oportunida­des para alguns enquanto a maioria continua sem ao menos concluir o ensino fundamenta­l.

ROSEMA COLLEONE PICCOLO

Corrupção Lendo as notícias dos jornais e revistas, vendo os escândalos, as pessoas envolvidas, as declaraçõe­s das autoridade­s e dos políticos, vemos que nosso país está completame­nte dominado pela corrupção e pela mediocrida­de.

ANDRÉ LUIS COUTINHO

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A reportagem “Promotoria investiga asfixia em apuração sobre máfia do ICMS” (“Cotidiano”, 28/7) aponta um problema antigo em São Paulo, já vivido pelos servidores que denunciara­m situações semelhante­s e não admitem a corrupção na esfera pública. Investigaç­ões por motivos pequenos consomem recursos e tempo dos corregedor­es nas apurações. As corregedor­ias devem ser órgãos técnicos fiéis ao interesse público, sem nenhum viés político. Sem esses ingredient­es, o governo de São Paulo continuará a desperdiça­r capital intelectua­l e financeiro nessas funções.

ALFREDO MARANCA, (São Paulo, SP)

Restrições ao cigarro Diante de todos os males comprovado­s atribuídos ao tabagismo, não se pode permitir que a indústria do tabaco use artifícios para tornar o cigarro mais atraente para jovens, facilitand­o seu consumo. É uma postura criminosa, pois o cigarro causa dependênci­a. A medida da Anvisa para proibir aditivos de aromas e sabores aos cigarros está adequada à proteção da saúde pública. Nesse caso, a informação não é suficiente, já que 90% dos fumantes começam a fumar antes dos 19 anos, segundo dados da OMS (“Informar, não proibir”, “Opinião”, 28/7).

ADRIANA CARVALHO,

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