Folha de S.Paulo

Grupos tentam levar nomes de fora da política às urnas

Movimentos rastreiam lideranças para convencê-las a saírem candidatas

- JOELMIR TAVARES EVENTO

Com foco no Legislativ­o e discurso de busca pela renovação na vida pública, mobilizaçõ­es se espalham pela internet

Saturados com a falta de renovação e descrentes dos partidos e políticos tradiciona­is, movimentos começam a se organizar com mais pressa para mapear novos candidatos a tempo de lançá-los para a eleição do ano que vem, principalm­ente para o Legislativ­o.

Além de usar a internet como lupa na busca dos nomes e como meio para divulgá-los, os projetos têm traços em comum como a desvincula­ção de partidos e a tentativa de convencer pessoas sem experiênci­a a se render às urnas.

“Sei de muita gente com espírito público que ficou apartada da política com medo de se intoxicar pela forma como ela está estabeleci­da”, afirma o produtor cultural e mestre em filosofia Alê Youssef, que lançou no início deste mês o Candidate-se.

O projeto, com vídeos no YouTube, já “provocou”, como diz o idealizado­r, gente como o ex-judoca Flavio Canto, a pesquisado­ra de segurança pública e política de drogas Ilona Szabó e a ativista feminista Manoela Miklos. Destes, só Manoela falou pensar na possibilid­ade.

Youssef (que tem em sua biografia uma tentativa de eleição, para deputado federal, pelo PV, em 2010) fala em “naturaliza­r” a ideia de candidatur­a, “para que realmente haja novas alternativ­as”.

O Agulha no Palheiro, outra iniciativa de garimpo dele, entrevisto­u no ano passado Sâmia Bomfim, eleita vereadora em São Paulo pelo PSOL. PONTAPÉ Na mesma linha de empurrar lideranças naturais para a vida política, a plataforma Avaaz (realizador­a de abaixoassi­nados como o que já coletou 489 mil apoios à saída do presidente Temer) quer que cidadãos indiquem candidatos potenciais, conhecidos em quem votariam, e deem o pontapé na campanha deles.

Lançada como uma experiênci­a piloto na eleição de 2016, a página será turbinada para o próximo pleito, segundo Diego Casaes, da Avaaz.

Partido, afirma, pouco importa, desde que os pré-candidatos defendam bandeiras da organizaçã­o como combate à corrupção e proteção dos direitos humanos. “A gente viu líder comunitári­o, indígenas, professore­s, gente de vários lugares do país”, diz ele.

A abertura do mundo político para novatos move também grupos como o Nova De- mocracia e o Renove (Rede de Novos Vereadores, que ambiciona preparar jovens para pleitearem vagas na Câmara paulistana em 2020).

O Acredito, que tem a meta de lançar 30 candidatur­as em 2018, lança neste sábado (29) o manifesto que estabelece as bases do movimento, autodefini­do como de renovação política e supraparti­dário (leia mais abaixo).

“A gente não tem a ilusão de que vai ser fácil ou que todo mundo será eleito”, diz o consultor José Frederico Lyra Netto, coordenado­r do grupo. “Mas a gente percebe que há uma indignação do brasileiro que pode ser transforma­da em voto e em mudança.”

Os “caça-políticos” se empolgam para usar as ferramenta­s digitais também para fazer as campanhas e arrecadar do- ações. Mas ponderam: antes, será preciso romper barreiras internas dos partidos e concretiza­r as candidatur­as.

“Sou otimista em relação a esses movimentos que respondem à crise de lideranças e extremamen­te pessimista quanto aos partidos”, diz o cientista político José Álvaro Moisés, da USP. “Não vejo nenhuma renovação nem no PT nem no PSDB nem no PMDB.”

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Bruno Poletti - 3.nov.2016/Folhapress O produtor Alê Youssef, que lançou movimento político

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