Voto republicano enterra o ‘Trumpcare’
Entre as intrigas e a tensão crescente na Ala Oeste da Casa Branca, o presidente Donald Trump anunciou nesta sexta-feira (28) a segunda grande mudança em sua equipe em menos de uma semana: a saída de seu chefe de gabinete, Reince Priebus, e a nomeação, para o seu lugar, do secretário de Segurança Doméstica, John Kelly.
O cargo, nos EUA, equivale ao de ministro-chefe da Casa Civil no Brasil.
Priebus havia sido alvo de críticas e impropérios do novo diretor de Comunicação de Trump, Anthony Scaramucci, nos dois últimos dias, quando ele desafiou, em entrevista à CNN, o chefe de gabinete a negar que ele era a origem de vazamentos da Casa Branca para a imprensa e disse à revista “New Yorker” que o colega era um “puta esquizofrênico paranoico”.
Na primeira entrevista após a sua saída ser anunciada, Priebus evitou polêmicas e disse à CNN que Trump queria ir “numa direção diferente” e que ele apresentou sua renúncia na quinta (27).
“Ele tem o direito de querer apertar o botão de reinício, e ele está certo de fazer isso”, disse Priebus, que afirmou que Trump quer “caras novas”, apesar de o governo ter pouco mais de seis meses.
“Sempre conversei com o presidente que, a qualquer momento, se qualquer um de nós acreditasse que era preciso haver mudança, conversaríamos e faríamos isso”, disse, completando que sempre será “fã de Trump” e o presidente tomou uma “deci- REINCE PRIEBUS chefe de gabinete demitido por Trump
DONALD TRUMP
presidente dos EUA são inteligente” sobre Kelly.
Priebus não quis responder a Scaramucci. Disse apenas que eram “ridículas” as acusações de que ele estaria vazando informações sigilosas à imprensa. Ele, contudo, afirmou que Kelly terá que “ir fundo” nos problemas de vazamento da Casa Branca.
A saída de Priebus, ex-presidente do Comitê Nacional Republicano, é um golpe no partido, que perde o segundo integrante no núcleo próximo do presidente em uma semana, ante a crescente influência de Scaramucci, vindo de Wall Street.
No último dia 21, o portavoz Sean Spicer —diretor de comunicação do comitê por seis anos— renunciara justamente por não concordar com a indicação de Scaramucci.
Na entrevista à CNN, o diretor de comunicação, que assumiu dizendo amar o presidente, afirmou não gostar “do que estava acontecendo na Casa Branca”. “Não gosto do que estão fazendo com o meu amigo, o presidente.”
Na semana passada, Scaramucci brincara com os rumores de que ele e Priebus não se davam bem dizendo que eram “como irmãos” que brigam. Na quinta, ele afirmou que “alguns irmãos são como Caim e Abel”, personagens bíblicos —no livro do Gênesis, Caim mata Abel.
A mudança do chefe de gabinete vem na sequência de uma derrota crucial do governo no Congresso, que perdeu em sua terceira tentativa de substituir a reforma de saúde de Barack Obama, inviabilizando o projeto (leia ao lado).
Ao anunciar sua decisão por um canal pessoal na internet, Trump disse que Kelly “é um grande americano e um grande líder”. “John também fez um trabalho espetacular na Segurança Doméstica. Ele tem sido uma estrela do meu governo”, escreveu.
A vice-secretária Elaine Duke assumirá interinamente a chefia do Departamento de Segurança Doméstica.
Quanto a Priebus, Trump agradeceu “seu serviço e sua dedicação a esse país”. “Conseguimos muita coisa juntos e tenho orgulho dele!”
DE WASHINGTON
Com o polegar direito para baixo, o senador republicano John McCain selou, na madrugada desta sexta (28), a derrota do presidente Donald Trump na tentativa de reverter a reforma da saúde realizada por Barack Obama.
O voto era contra um texto que rejeitava menos pontos do “Obamacare”, mas não cortava a expansão do Medicaid (sistema público para os mais pobres) e mantinha a regulação de planos de saúde.
Foi a terceira proposta dos republicanos recusada, em uma semana, pelo Senado, onde o partido tem maioria. “É hora de seguir em frente”, disse o líder republicano na casa, Mitch McConnell.
Na Câmara, onde um projeto para substituir o “Obamacare” passou por pouco, a frustração era evidente. O presidente da casa, Paul Ryan se disse “decepcionado”, mas afirmou que outros temas precisam de atenção, como a reforma tributária.
Era esperado que as senadoras republicanas Susan Collins e Lisa Murkowski votassem contra o texto. Mas o partido, que tem 52 dos 100 votos, não podia perder outro.
Foi então que McCain, que teve um emocionado retorno ao Senado nesta semana após ser diagnosticado com câncer no cérebro —e foi chamado de “herói” por Trump ao apoiar o início dos debates sobre o tema— definiu o placar de 51 a 49 contra.
“O ‘Obamacare’ deve ser substituído por uma solução que amplie a concorrência, corte custos e melhore o serviço”, disse em nota o senador, para quem o plano do Senado “não alcança tais metas”.
Em discurso em Brentwood (Nova York) mais tarde, Trump disse ser hora de “deixar o ‘Obamacare’ implodir”. (IF)
“direito de querer apertar o botão de reinício, e ele está certo de fazer isso [John Kelly] é um grande americano e um grande líder. Fez um trabalho espetacular na Segurança Doméstica