Exército atuará na segurança pública do Rio
Em meio a grave crise, governo federal autoriza uso das Forças Armadas no Estado ao menos até o final deste ano
Atuação dos militares será de menos patrulha nas ruas e mais focada em ação de inteligência no combate ao tráfico
O governo federal autorizou o uso das Forças Armadas para atuarem na segurança pública em todo o Estado do Rio de Janeiro. O decreto assinado pelo presidente Michel Temer prevê utilização da tropa até o fim do ano. Mas a expectativa é que a atuação permaneça até 2018.
O emprego dos militares será diferente das atuações anteriores no Rio, segundo o ministro da Defesa, Raul Jungmann. Não está previsto o uso constante das Forças Armadas no policiamento rotineiro do Estado, embora isso não seja descartado em determinadas situações.
“Antes [em mobilizações anteriores] eles ficavam patrulhando as ruas, ocupavam os morros. Eles não vão fazer nada disso. Vão apoiar determinadas ações curtas, embora sucessivas. Eles só serão empregados em apoio, porque a liderança do processo é policial, é da inteligência”, disse o ministro.
A autuação das Forças Armadas começou já na tarde desta sexta, em vias consideradas importantes da região metropolitana, como a Avenida Brasil, Linha Vermelha e praia de Copacabana. Este emprego inicial visa o reconhecimento do terreno de atuação e não tem prazo.
O reforço chega em meio a uma escalada de violência. O Estado registrou uma alta de 10% nas vítimas de homicídios neste semestre, em comparação com o mesmo período do ano passado. Alta mais expressiva ocorreu no número de mortos pela polícia em supostos confrontos: 45%.
Um conjunto de fatores contribui para a situação. De um lado, as forças de segurança estão fragilizadas pela crise econômica —o déficit estimado no orçamento é de R$ 21 bilhões. A política de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) ruiu –estudo da PM diz que houve 1.555 confrontos em lugares com UPP em 2016 contra 13 em 2011. Do outro, confrontos entre grupos criminosos também têm sido mais frequentes.
O governo federal anunciou a mobilização de 8.500 militares das Forças Armadas, 620 agentes da Força Nacional de Segurança e 380 da Polícia Rodoviária Federal. Esse contingente amplia em 14% o efetivo das forças de segurança no Estado —as polícias Militar e Civil têm 57,7 mil pessoas em seus quadros.
Jungmann afirmou que a mobilização dos militares “não dará resultado do dia para a noite”. “Nosso carrochefe é inteligência. Essa operação visa chegar ao crime organizado”, disse o ministro.
Desde a década de 1990 as Forças Armadas são empregadas no Rio em momentos de crise ou em grandes eventos. A última ocorreu no Carnaval. Antes, ocuparam o Complexo da Maré e o morro da Providência —onde militares foram condenados por entregar um jovem a traficantes de facção rival.
O sociólogo Ignacio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, vê o emprego das Forças Armadas com maus olhos. “Toda vez que há uma crise chamamos o Exército para atuar. Já está claro que isso não resolve nada. Gera apenas uma ilusão de segurança. Se o governo federal quer colaborar, deveria dar recursos para que o Estado pague seus policiais.”
Já o antropólogo e ex-capitão do Bope Paulo Storani acha que a intervenção não terá impacto a longo prazo, mas é bem-vinda. “As Forças vêm atender uma demanda de que o Estado não está dando conta. A presença delas não vai solucionar o problema, mas pode ter impacto positivo em alguns indicadores. Ainda que seja temporário, é melhor do que nada.”