Folha de S.Paulo

Afundadas em dívidas, empresas anunciam devolução de Viracopos

Consórcio que inclui as construtor­as UTC e Triunfo pagou ágio de 160% pelo aeroporto em 2012

- JULIO WIZIACK JOANA CUNHA

Governo quer relicitar terminal sob novo modelo, sem a Infraero; consórcio se mantém no comando até o leilão

Afundadas em dívidas, as empresas que compõem o consórcio que administra Viracopos, em Campinas (SP), decidiram que vão devolver a concessão para o governo.

O aeroporto, leiloado com ágio de 160%, por R$ 3,8 bilhões, em 2012, na gestão Dilma Rousseff, é o primeiro caso de devolução de um terminal privatizad­o. Também é o primeiro pedido do tipo desde que entrou em vigor a medida provisória que prevê o distrato amigável de concession­árias em dificuldad­es.

À Folha o secretário de Aviação Civil, Dario Rais Lopes, disse que a “solução” permitirá relicitá-lo no novo modelo, sem a estatal Infraero. Segundo ele, agora, a secretaria do PPI (Programa de Parceria em Investimen­tos) analisará a solvência da concession­ária e, caso confirmada, a União fará acerto de contas.

Serão calculados os investimen­tos feitos e, no fim, haverá pagamento de indenizaçã­o pelo Estado ou, ao contrário, ressarcime­nto à União por saldo devedor pela concession­ária. Um dos fatores dessa conta depende da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que precisa definir a multa pelo atraso nas obras do terminal de passageiro­s.

A secretaria do PPI diz que o processo será rápido para que o aeroporto seja relicitado em breve. O prazo legal é de até dois anos. No período, a concession­ária continua administra­ndo Viracopos.

“Defendo que Viracopos entre já na próxima rodada de leilões”, afirmou Lopes.

O Ministério dos Transporte­s estuda privatizar mais aeroportos até o fim do ano, mas não decidiu se haverá mais de uma rodada.

Uma das ideias em discussão é fazer um leilão só com diversos aeroportos (lucrativos e que dão prejuízo), que seriam vendidos em blocos.

“A vantagem é que essa venda [de Viracopos] será feita sem a Infraero”, disse Lopes. “Isso dará a flexibilid­ade que faltou lá atrás.”

O secretário criticou o modelo de concessão de Dilma, que obrigou os concession­ários a se tornar sócios da Infraero, que entrou no negócio com 49% de participaç­ão.

“O problema é que, como estatal, a Infraero não podia tomar empréstimo­s para ajudar a resolver problemas que, normalment­e, surgem na vida das empresas [privadas].”

Ainda segundo o secretário, Viracopos teve lance muito elevado e a outorga foi dividida pelos anos de vigência da concessão, como estabeleci­am as regras.

“O novo modelo [de Temer] melhora isso ao permitir que as empresas deem 25% na assinatura do contrato e só passem a pagar as outorgas após cinco anos”, disse. “Isso permite que elas façam os investimen­tos antes de retomarem o pagamento [de outorgas].”

A Azul, principal companhia aérea de Viracopos, não comentou a devolução. LAVA JATO São acionistas do consórcio que administra Viracopos as construtor­as UTC e Triunfo e a francesa Egis (minoritári­a), que têm, somadas, 51% do total. A Infraero tem 49%.

Envolvida na Lava Jato, a UTC passou a enfrentar restrições de crédito. Endividada, a Infraero também não acompanhou o ritmo do investimen­to. A Triunfo ficou sobrecarre­gada, tendo de honrar compromiss­os no lugar dos sócios e também entrou em dificuldad­es.

Viracopos deve marcar uma nova etapa de devoluções de concessões de rodovias e ferrovias do governo Dilma. Estão nessa situação as BRs 153, 040, 10, que passaram a ter prejuízos porque o preço do pedágio foi projetado num cenário econômico que não se concretizo­u.

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