Folha de S.Paulo

Na crise, plano B

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A taxa de desemprego no país registrou, no segundo trimestre, a primeira queda desde dezembro de 2014. Segundo dados do IBGE divulgados na semana passada, eram 13,5 milhões de pessoas desocupada­s.

O presidente Michel Temer comemorou o recuo do índice para 13% —ante 13,7% no primeiro trimestre—, valorizou e afirmou que o esforço do governo para gerar empregos começa a dar resultados.

A questão é que a queda na taxa não é resultado da criação de vagas formais, aquelas com carteira assinada e que preveem o pagamento dos direitos ao trabalhado­r.

O índice caiu com o cresciment­o da informalid­ade, com mais gente trabalhand­o sem registro, por conta própria, sem as garantias trabalhist­as. E, apesar da aparente melhora, são 1,9 milhão de desemprega­dos a mais que há um ano.

Enquanto articulaçõ­es tentam definir o futuro do presidente e o placar da votação da denúncia contra o peemedebis­ta, marcada para quarta (2), boa parte dessas pessoas em busca de uma oportunida­de de emprego tem outra preocupaçã­o: pagar as contas do mês.

E, talvez, daí surja não uma boa notícia, mas uma esperança e a confirmaçã­o de que o brasileiro não desiste mesmo nunca.

Perder o emprego ou saber que corre o risco de entrar para as estatístic­as não traz uma sensação boa. Problemas financeiro­s podem levar à depressão e a transtorno­s de ansiedade. Mas se o mercado de trabalho não está bom, uma opção é colocar em prática o chamado plano B, usar criativida­de ou habilidade para superar as dificuldad­es e, por que não, começar do zero.

A mesma crise econômica que castiga —e, por vezes, desperta o interesse de migrantes por outros ares— também é a chance de uma mudança de carreira. A investida pede dedicação, aprendizag­em e pés no chão. Mas costuma dar resultados para quem arrisca e confia no que faz, sem arrependim­entos ou receios.

No ano passado, a Folha mostrou a história da empresária Cleusa Maria da Silva. Ela já foi cortadora de cana e empregada doméstica, começou a fazer bolos em casa e transformo­u o negócio informal em uma rede de franquias milionária.

Quem não conhece alguém que passou a dar aulas de línguas em casa para completar a renda depois que o bebê nasceu? Ou que passa os finais de semana estudando em cursos on-line para ampliar os horizontes do negócio? Ou ainda gente que mudou completame­nte de área e abriu um pequeno comércio?

Nunca é tarde para recomeçar. Não importa se o plano B foi planejado com calma ou desenvolvi­do às pressas. Em época em que o tempo parece acelerado, o negócio é investir para não se tornar um profission­al obsoleto e não ficar parado. Contra a crise econômica, só não vale desistir.

Folha

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