Folha de S.Paulo

Temer contra ninguém

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SÃO PAULO - Abriu-se o ciclo da última prova de resistênci­a de Michel Temer. Caso ele sobreviva até o final de setembro, é provável que as energias para destituir o presidente se dissipem de vez no cálculo de custos e benefícios da política.

Embora o mecanismo —a denúncia por crime comum— seja novo, o procedimen­to para depor o chefe do Executivo federal já foi testado duas vezes na Nova República. Seu rubicão é a desconfian­ça de dois terços dos deputados federais no presidente. Atingido esse placar, os desdobrame­ntos são quase automático­s.

Não se deve dar tanto crédito ao invólucro jurídico desses processos. A arbitragem será, a exemplo dos casos Collor e Rousseff, sobretudo política. Como é usual nas disputas de poder, os deputados vão decidir entre o presidente no cargo e aquele que herdaria o Planalto em caso de queda.

À diferença das outras duas “eleições indiretas” deste período democrátic­o, agora não há um polo opositor forte a atrair os descontent­es.

Tucanos afoitos, logo após o estouro do escândalo da JBS, organizara­m uma conspirata de apartament­o em torno de Tasso Jereissati. Deu tudo errado. Até hoje não decidiram nem sequer se saem do governo.

Depois veio o ensaio de Rodrigo Maia. No arranque inicial, o presidente da Câmara pareceu que confrontar­ia Temer, mas resfolegou logo em seguida e abortou a investida.

Um dos presidente­s mais impopulare­s da história, Michel Temer duelará contra ninguém na primeira batalha parlamenta­r —se é que ela vai acontecer— pelo seu pescoço. Desse jeito, sua derrota fica improvável.

Não há de ser bom sinal o fracasso do sistema político em apresentar alternativ­a a um presidente cuja capacidade de liderar o país e o Congresso foi arruinada. Os partidos tradiciona­is continuam atrelados aos velhos oligarcas de sempre. A cidadania parece exausta e resignada. vinicius.mota@grupofolha.com.br

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