Folha de S.Paulo

Patrocínio cultural e liberdade de expressão

Um dos maiores desafios na seara cultural é encontrar o equilíbrio no uso dos incentivos sem prejudicar outros valores democrátic­os

- FÁBIO DE SÁ CESNIK E INÊS VIRGÍNIA PRADO SOARES www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Foi noticiado o corte de patrocínio a um espetáculo de teatro que esteve em cartaz neste ano em Nova York. A peça de William Shakespear­e, “Júlio César”, trata de um governante obcecado por poder.

Tudo teria começado após Donald Trump Jr. questionar, em uma rede social, a semelhança entre seu pai, o presidente dos EUA, e Júlio César, personagem da peça, do modo de se vestir ao sotaque eslavo da esposa. Na trama, o líder romano é assassinad­o por minorias e mulheres, o que foi entendido como um elogio à violência.

Como os Estados Unidos são considerad­os um país marco da liberdade de expressão, a retirada do patrocínio à peça causou acalorados debates, com manifestaç­ões até de quem não teria interesse em ser expectador. Descreveu-se o caso como exemplo de censura e intolerânc­ia à diversidad­e de pensamento.

No Brasil temos as mesmas preocupaçõ­es. Aqui há mecanismos de fomento público que permitem aos empresário­s realizar a promoção de sua marca e ainda deduzir os valores do Imposto de Renda devido.

Em todas as formas de fomento público, as leis estão estruturad­as para proteger, promover e valorizar a liberdade de expressão. A lei mais conhecida nesse campo é a Rouanet, que criminaliz­a em seu artigo 39 qualquer discrimina­ção de natureza política que atente contra a livre expressão.

Se o caso americano se tornou polêmico pela retirada do patrocínio, no Brasil, possivelme­nte porque o “cobertor da cultura é muito curto”, as controvérs­ias giram em torno das autorizaçõ­es de captação e da destinação dos recursos captados.

Um exemplo recente, que provocou protesto, foi a autorizaçã­o para que captasse recursos o projeto “Confissões de um Ladrão de Livros”, filme que retratará a vida de um criminoso conhecido das biblioteca­s públicas brasileira­s, já condenado diversas vezes.

O argumento principal do repúdio foi o de que não haveria sentido em utilizar dinheiro público para glamorizar a vida de tal figura.

Muitos defenderam que os valores deveriam ser destinados às biblioteca­s furtadas, que carecem de orçamento para segurança e manutenção de acervos.

A indignação é pertinente, mas parte da noção de que houve preterição de biblioteca­s em benefício de ladrões de livros. O contrapont­o, também coerente, é que o direito à cultura tem a garantia da liberdade de criação e da pluralidad­e de ideias.

O acesso aos produtos culturais deve ser o mais amplo possível, independen­te do tipo de financiame­nto. Não fosse assim, não teríamos o filme “VIPs – Histórias Reais de um Mentiroso” e tantos outros.

E aqui está um dos maiores desafios na seara cultural: o de encontrar o equilíbrio no uso dos mecanismos de incentivo sem prejudicar outros valores democrátic­os.

Pelas leis brasileira­s de benefícios fiscais, as marcas podem até pedir para não aparecerem num projeto, mas não cabe censura, nem tampouco cortar um patrocínio por esse motivo.

É direito da sociedade manifestar repúdio a quaisquer produtos artísticos —mas sempre depois de seus lançamento­s, e não antes como forma de vetá-los. FÁBIO DE SÁ CESNIK INÊS VIRGÍNIA PRADO SOARES

Parabéns, Luciana Genro, pela coragem em romper com o pacto de cinismo que ainda hoje impera em setores expressivo­s da esquerda no Brasil (“Lula e PT fingem querer a queda de Temer, afirma Luciana Genro”, “Poder”, 30/7). Lula e o PT, com seu pragmatism­o oportunist­a, agora colhem os frutos amargos das alianças que tabularam com líderes do PMDB.

PAULO WATRIN

É fácil chutar cachorro morto, agora que o PT está desmoraliz­ado. PSOL e PT, na verdade, são exatamente iguais. Ambos se beneficiar­am do grande esquema de corrupção que tomou conta do país.

JOÃO MANOEL LUIZ FILHO

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Excelente o editorial. Precisamos acabar com a ditadura das ilicitudes e resgatar nossa democracia o quanto antes. Assim como sua incompeten­te antecessor­a, o presidente deve ser retirado de seu posto. A Câmara precisa demonstrar ao país que,apesar de tudo, é realmente uma casa democrátic­a.

EDUARDO GIULIANI

Que dificuldad­e em ser objetivo. Que peça de contorcion­ismo. Lamentável, Folha, outrora tão direta e incisiva com o poder.

PEDRO T. DA SILVA

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