Folha de S.Paulo

‹ Não é possível juízo definitivo, diz Procurador­ia

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DE BRASÍLIA

Em nota enviada para a reportagem, a PGR (Procurador­ia-Geral da República) afirmou “desconhece­r a opinião da Polícia Federal sobre supostas falhas”.

“O atual estágio das investigaç­ões em decorrênci­a das colaboraçõ­es dos executivos da Odebrecht não permite ainda fazer juízo definitivo sobre a eficácia dos acordos, por estarem em apuração. Essa análise caberá, em momento devido, ao Judiciário”.

A PGR afirmou que recente decisão do Supremo Tribunal Federal conferiu “segurança jurídica aos acordos e garantiu-se o princípio da confiança dos órgãos do Estado que se compromete­m com colaborado­res da Justiça a conceder premiações, para que se possa desbaratar a organizaçã­o criminosa”.

O órgão escreveu ainda que a investigaç­ão policial deve ser feita “em harmonia” com a estratégia do Ministério Público, “pois caberá ao órgão acusador [PGR] decidir sobre a propositur­a da ação penal e tudo que for ligado a ela até o final do julgamento”.

A Odebrecht, por sua vez, afirmou que “está colaborand­o com as autoridade­s no esclarecim­ento de todos os fatos por ela revelados, e reafirma o seu compromiss­o com a verdade e com uma atuação ética, íntegra e transparen­te, no Brasil e em todos os países nos quais atua”.

O texto diz também que “a efetividad­e da colaboraçã­o da empresa foi reconhecid­a não apenas pelo Ministério Público, mas por autoridade­s de outros países —Suíça, Equador, República Dominicana e Estados Unidos. No Brasil, a colaboraçã­o tem também o reconhecim­ento do Judiciário, como demonstram, por exemplo, decisões recentes do juiz Sergio Moro”.

Rodrigo Mudrovitsc­h, advogado de Claudio Melo Filho, disse que não existiu mudança na narrativa e que o cliente, como delator, “possui irrestrito propósito de colaborar com as investigaç­ões decorrente­s do material probatório por ele disponibil­izado”.

“A literalida­de dos depoimento­s prestados comprova isso, até porque todas as suas manifestaç­ões refletem a verdade dos fatos de conhecimen­to do colaborado­r”.

A Folha procurou a assessoria da Polícia Federal, mas não obteve resposta.

A PF tem o ex-relações institucio­nais da empreiteir­a Claudio Melo Filho como um dos exemplos de delator que mudou de versão. À PGR em dezembro ele contou, entre várias histórias, sobre contribuiç­ões ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e ao hoje governador de Alagoas, Renan Filho, em 2010 e 2014.

Disse que, apesar de terem sido doações declaradas, poderiam ser entendidas como contrapart­idas à atuação em favor da Odebrecht.

Uma das solicitaçõ­es, em 2014, foi após uma reunião para tratar de assuntos de interesse da Braskem, braço petroquími­co do grupo baiano.

“[O pedido de doação do senador] Foi atendido porque a gente estava ali para fazer um pedido para ele e na hora que vem um pedido de volta para cá, é de bom tom para o que você está pedindo tentar equacionar o outro lado”, declarou Melo Filho.

Em 9 de junho deste ano, novo depoimento do ex-diretor gerou interpreta­ção contrária na PF. “Que para o declarante a doação foi realmente uma doação eleitoral e não pagamento de propina”, consta no termo do depoimento do delator à PF, sobre o repasse a Renan de 2010. “Que Renan não condiciono­u a sua atuação política à retribuiçã­o financeira da Braskem”, sobre a doação realizada em 2014.

A PF vai pedir nesta semana para ter acesso ao Drousys e ao MyWebDay, programas utilizados pelo Setor de Operações Estruturad­as, a área de pagamento de propina da empreiteir­a, para realizar perícia e checar os dados declarados e as datas em que foram inseridos.

A PF se deparou, na investigaç­ão sobre o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), com o fato de a doação ter acontecido antes dos sistemas internos existirem, o que levou a uma dúvida sobre qual teria sido o momento de inserção dos dados.

O ex-diretor de relações institucio­nais Alexandrin­o Alencar afirmou não ter informaçõe­s sobre isso e que só recebeu a planilha de repasses no período em que a Odebrecht negociava a colaboraçã­o.

Sobre a ausência de documentos, um dos exemplos é o da investigaç­ão sobre a deputada Maria do Rosário (PT-RS).

“Os colaborado­res não trouxeram informaçõe­s, até o momento, que possam indicar a forma como se deu o pagamento do valor que teria sido alcançado a investigad­a para financiar sua campanha”, consta em relatório da PF. Alencar prometeu procurar novos documentos para ajudar a investigaç­ão.

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