Folha de S.Paulo

De apurações em curso

- CAMILA MATTOSO

A Polícia Federal identifico­u falhas nas delações da Odebrecht que, em sua avaliação, dificultam e compromete­m as investigaç­ões das informaçõe­s passadas à Procurador­ia-Geral da República.

Investigad­ores da PF que cuidam dos casos que estão no Supremo Tribunal Federal destacam, entre outras coisas, um exagero no número de delatores, a mudança de versão por parte de alguns deles e o fato de até hoje não terem acesso aos sistemas que embasaram as planilhas de repasses de dinheiro, caixa dois ou propina, a parlamenta­res.

Em relatórios parciais públicos e internos, policiais apontam outros problemas, como a ausência de documentos que comprovem as narrativas dos colaborado­res.

Outro ponto criticado é que parte do material apresentad­o já fora apreendido em fases da Lava Jato. Além disso, alguns dos supostos crimes já estariam prescritos.

Após a investigaç­ão da PF, caberá à PGR tomar decisões sobre possíveis denúncias contra os implicados. As delações envolvem oito ministros, 39 deputados e 24 senadores.

A PF e o MPF têm divergido, desde o início da operação, em relação ao formato de delação premiada, tema que virou até ação no Supremo, por autoria do procurador-geral, Rodrigo Janot.

Segundo a Folha apurou com pessoas envolvidas na investigaç­ão policial, haverá uma série de manifestaç­ões da PF contrárias à concessão de benefícios dada pela PGR aos delatores por falta de eficácia dos relatos.

Um exemplo ocorreu recentemen­te no caso do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado— a polícia entendeu que, em razão de falta de provas das acusações que fez contra políticos do PMDB, o executivo não deve ser merecedor dos benefícios acordados.

A decisão final sobre a pena dos colaborado­res será definida pelo juiz de cada processo. Há casos que ficaram no STF e outros que seguiram para outras instâncias.

Em uma só leva, 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht assinaram colaboraçõ­es em dezembro de 2016, homologada­s pelo STF em janeiro. Como consequênc­ia, a pedido da PGR, o Supremo autorizou a abertura de mais de 70 inquéritos.

No ano passado, pela expectativ­a do que poderiam revelar os funcionári­os, deu-se o nome de “delação do fim mundo” para o acordo.

Para a polícia, o número de delatores deveria ter se restringid­o a no máximo seis

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