Folha de S.Paulo

A conexão israelo-saudita

- JAIME SPITZCOVSK­Y COLUNISTAS DA SEMANA quinta: Clóvis Rossi domingo: Clóvis Rossi segunda: Mathias Alencastro

DEU SINAIS de arrefecer, na última sexta-feira (28), a onda de violência delineada por atentados contra alvos israelense­s e pelos protestos contra medidas de segurança implementa­das, em Jerusalém, pelo premiê Binyamin Netanyahu.

Em vez de nova “intifada” (rebelião palestina), avança a aproximaçã­o entre Israel e líderes regionais, como Arábia Saudita e Egito, interessad­os na manutenção em baixa temperatur­a do conflito israelo-palestino, a fim de concentrar esforços contra um inimigo comum: o Irã.

Nos últimos anos, a complexa trajetória do Oriente Médio, esculpida por desavenças políticas, econômicas e religiosas, voltou a ser modelada sobretudo pelo enfrentame­nto entre dois campos.

De um lado, o regime teocrático do Irã, com o projeto de “exportar” a revolução islâmica, responsáve­l por, em 1979, derrubar o governo do xá Reza Pahlevi. Aiatolás, líderes do e defendem, sem meias palavras, a destruição de Israel.

Teerã coleciona ainda rivalidade histórica com Arábia Saudita, onde predomina a vertente sunita do islamismo. Seguidores de ramos diferente da mesma religião, iranianos e sauditas travam intenso duelo pela liderança no mundo muçulmano.

Na trágica guerra da Síria, por exemplo, enquanto o Irã apoia o regime de Bashar Al-Assad, a Arábia

Um outro episódio recente a opor os rivais foi a crise do Qatar, pequeno e rico emirado vizinho aos sauditas, mas dono de uma política externa autônoma, a desenvolve­r laços com o Irã.

A Arábia Saudita, apoiada pelo Egito, anunciou em junho rompimento de relações diplomátic­as com o Qatar, tentativa de forçar o vizinho a rever vínculos com o governo

O flerte entre Israel e monarquias do golfo Pérsico, no entanto, antecede à era trumpiana. A imprensa israelense recentemen­te noticiou que, em 2012, Netanyahu se reuniu às escondidas, num hotel de Nova York, com o ministro das relações exteriores dos Emirados Árabes Unidos, aliado saudita.

Agora, de volta à crise recente. Na quinta (27), a Arábia Saudita reivindico­u a paternidad­e de “conversas com líderes internacio­nais” responsáve­is, segundo a nota oficial, por desarmar a crise em Jerusalém.

A temperatur­a baixou quando o governo Netanyahu decidiu retirar dispositiv­os de segurança instalados ou indiretos, com autoridade­s israelense­s. Também houve, nas articulaçõ­es, participaç­ão de norteameri­canos, egípcios e jordaniano­s.

Na diplomacia do Oriente Médio, a Arábia Saudita e Israel tendem a coordenar novas ações, ainda que sem manter laços oficiais, preocupado­s em conter a influência iraniana na região.

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