Folha de S.Paulo

“Leitores têm liberdade. Não cabe aos editores censurar”, afirma Djaimilia

- AMANDA RIBEIRO MARQUES

“O livro é um território de liberdade. Eu acredito que as pessoas têm liberdade para tudo, inclusive para escolher o que querem ler. Não cabe aos editores censurar”, afirmou a escritora portuguesa Djaimilia Pereira de Almeida em debate na Casa Folha, neste domingo (30).

A autora, que participou da mesa Literatura Fora do Eixo, mediada pela jornalista Patrícia Campos Mello, se referia à atuação dos leitores sensíveis, revisores que vêm sendo contratado­s por editoras para identifica­r conteúdos ofensivos a minorias. “Se você censura os livros antes de eles saírem, tira das pessoas a capacidade de decidirem o que não querem ler.”

Para o editor da revista literária “Quatro Cinco Um”, Paulo Werneck, que também participou do debate, ainda mais grave são os “pais sensíveis”, que vão às escolas pedir que livros sejam retirados da grade curricular.

Werneck citou o caso de “Lá Vem História: Contos do Folclore Mundial”, de Heloisa Prieto, rejeitado por pais ao retratar um casal homossexua­l.

“O leitor sensível mais perigoso é esse aí, que tenta impedir o trabalho dos professore­s, a descoberta do livro pelas crianças e bloqueia o avanço da literatura”, disse. NO LUGAR DO OUTRO Ao ser questionad­a sobre a possibilid­ade de uma mulher branca ter escrito seu livro, “Esse Cabelo”, que aborda a relação de uma menina negra com seus cabelos cacheados, Djaimilia disse gostar de pensar que não seria impossível. “A literatura funciona de tal forma que, se a escritora fosse incrível, extraordin­ária, ela conseguiri­a. A literatura na verdade exige que você se ponha no lugar do outro”, afirmou a autora.

A autora reforçou a importânci­a de se aceitar como era e amar o cabelo que tinha para poder dar voz a milhares de outras meninas que, como ela, já se sentiram feias por terem os cabelos crespos.

“Se eu tivesse o cabelo que sonhava ter quando era criança, loiro, liso e lindo, o livro não existiria, e eu não estaria aqui. Temos que nos olhar no espelho, ver esses cabelos e sermos capazes de achar engraçado. Não podemos nos penitencia­r”.

 ?? Marcus Leoni/Folhapress ?? A mesa Literatura Fora do Eixo, com a jornalista Patrícia Campos Mello, a escritora portuguesa Djaimilia Almeida e o editor Paulo Werneck, encerra a programaçã­o da Casa Folha
Marcus Leoni/Folhapress A mesa Literatura Fora do Eixo, com a jornalista Patrícia Campos Mello, a escritora portuguesa Djaimilia Almeida e o editor Paulo Werneck, encerra a programaçã­o da Casa Folha

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