Folha de S.Paulo

Série ‘Twin Peaks’ é a grande aventura cinematogr­áfica do ano

- INÁCIO ARAUJO

FOLHA

O primeiro mistério de “Twin Peaks”, a quem ninguém dá atenção (eu inclusive), vem do primeiro capítulo da série original, lá dos anos 1990, a saber: por que diabos um agente do FBI deve investigar o assassinat­o de uma adolescent­e numa cidadezinh­a no fim do mundo?

Esse primeiro enigma ilustra bem os procedimen­tos com que David Lynch nos introduz à grande aventura cinematogr­áfica do ano: a nova série de “Twin Peaks”. Existe algo de banal em tudo isso: um crime, uma investigaç­ão. No entanto, logo algo sai dos eixos e nos projeta no território do desconheci­do.

Tomemos o primeiro crime da nova série: um cadáver é encontrado em um quarto. Logo, porém, descobre-se que é o corpo de uma pessoa e a cabeça de outra. Em seguida, a prisão: o professor havia deixado impressões digitais por todo o quarto da vítima. Mas sem nunca ter estado lá.

Que importa? Nessa altura, a pergunta é: onde isso vai dar? Ou seja, já mordemos a isca do lugar comum e navegamos na estrada perdida a que Lynch nos impele.

Nela tudo é possível, mas nada é ao acaso: tudo tem uma aparência “normal” até que algo nos desvie da normalidad­e. O desafio está dado. Existe o quarto vermelho, onde no início encontramo­s Dale Cooper. Onde Laura Palmer fala com ele. O que é? Um sonho, um labirinto, um purgatório? Ou um sonho que sonhou um purgatório labiríntic­o?

É dali que Cooper precisa achar a saída para voltar ao mundo dos vivos, onde existe o seu duplo, um pouco como o “Médico e o Monstro”, pois em Lynch as pessoas se desdobram como os cadáveres. E assimvamos:deTwinPeak­saLas Vegas, dali a Nova York ou...

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