Folha de S.Paulo

Autores destaques da Flip participam de encontros em SP

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Aos poucos descobrimo­s o que faz o FBI nessa história: a morte de Laura Palmer é a morte da beleza americana, a garota do baile da cidadezinh­a plácida, onde nada acontece de especial. A morte do clichê por excelência.

Nessa altura, outro aspecto chama a atenção. O gabinete do chefe do FBI, Gordon Cole (o próprio Lynch). Não existe ali foto em destaque de presidente americano ou coisa assim. Atrás da mesa, uma violenta explosão atômica parece resumir todos os retratos presidenci­ais de 1945 em diante.

Do lado oposto, uma foto de ninguém menos que Franz Kafka. Foto tutelar, sem dúvida. Como Kafka, Lynch se passa do registro causal. Gregor Samsa certo dia amanhece transforma­do num gigantesco inseto? Por quê? Não sabemos e não importa. Só importa o que ele precisa fazer para levantar, como se alimentar, as aflições das tarefas a cumprir...

Existe uma diferença essencial entre Kafka e Lynch, como assinala Alcir Pécora: em Kafka, o único sentido é descobrir a ilusão de fazer sentido, a experiênci­a do desengano e do absurdo. Em Lynch, para chegar à salvação é preciso atravessar uma estética do inferno. Ou passar pelo teatro do silêncio.

Nessa experiênci­a estaremos sozinhos, tal como Dale Cooper ao atravessar o abismo estrelado que o trará de volta à Terra, a quem acompanham­os entre gozos e ausências: autista num mundo fantasmagó­rico. Ao final dos 11 primeiros capítulos, nenhum mistério se dissipou. Outros vieram. Um corpo encontrado morto, uma cabeça estourada, a imagem de fantasmas irrompendo na tela. Há humor, horror, vício. Nada está resolvido, ao contrário, mas a beleza de cada fragmento nos fascina. Porque o princípio de “Twin Peaks” é, também, o das “Mil e Uma Noites”: conte-me uma história para viver mais uma noite. Em Lynch a ficção, como Sheherazad­e, existe in extremis, mas não acaba. NA INTERNET Twin Peaks QUANDO novos episódios às segundas, na Netflix AVALIAÇÃO ótimo DE SÃO PAULO - A Folha realiza encontros com dois destaques da Flip (Festa Literária Internacio­nal de Paraty), encerrada neste domingo (30).

Na terça-feira (1º), o jamaicano Marlon James, autor de “Breve História de Sete Assassinat­os” (Intrínseca) , fará um bate-papo seguido de sessão de autógrafos. Será às 19h na Saraiva do shopping Pátio Paulista (r. Treze de Maio, 1.947).

Na quarta-feira (2), será a vez de Scholastiq­ue Mukasonga, ruandesa radicada na França que lançou dois títulos na Flip pela editora Nós.

A conversa será mediada por Patrícia Campos Mello, repórter especial da Folha, e começa às 17h na Saraiva do shopping Pátio Higienópol­is (av. Higienópol­is, 618). Ambos os eventos terão tradução simultânea e entrada gratuita.

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O ator Kyle MacLachlan em cena da nova ‘Twin Peaks’ LIVROS

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