Folha de S.Paulo

Juro menor força queda de taxa de fundo

Com decisão do BC de reduzir a Selic, fundos têm de se mexer para não perder clientes para outras aplicações

- DANIELLE BRANT

Investidor precisa ficar atento não apenas às taxas cobradas, mas também a desempenho obtido nos últimos anos

A queda dos juros no país vai naturalmen­te provocar uma redução das taxas de administra­ção cobradas pelos fundos de renda fixa. Uma Selic de um dígito tem impacto direto no ganho desses produtos e pode causar migração de investidor­es para aplicações que deem retorno maior.

Para gestores ouvidos pela Folha, manter esses clientes vai ser desafiador para fundos que cobram taxa elevada e entregam rentabilid­ade abaixo do CDI, taxa média de empréstimo entre instituiçõ­es financeira­s que baliza aplicações conservado­ras.

“Lá atrás [entre 2011 e 2012], houve essa discussão, e os fundos mais conservado­res reduziram a taxa de 2% para 1%. Agora, vão ter que buscar custos menores, senão podem perder até para a poupança”, diz Marco Bismarchi, sócio da TAG Investimen­tos.

Nos bancos, diz, é comum encontrar “produtos absurdamen­te caros para a pessoa física”. “Então começa a se desenhar esse movimento de redução das taxas para não perder os clientes”, afirma.

Para Rafael Paschoarel­li, professor de finanças da USP, os bancos vão ter que escolher o caminho a trilhar. “A dúvida vai ser: onde perco menos receita? Mantendo a taxa de administra­ção e perdendo cliente? Ou reduzindo a taxa de administra­ção, mas com uma base maior de clientes? Todo mundo está fazendo conta.” COMPARAÇÃO A gestão vira um diferencia­l. Fundos de renda fixa com taxas iguais podem ter resultados bem distintos, afirma Marcus Vinicius Gonçalves, presidente da Franklin Templeton no Brasil.

“O que importa é o retorno líquido, depois do desconto da taxa. O que o fundo entrega de resultado”, diz.

“O investidor pode pagar 1% em um fundo que tem assessoria ou pagar o mesmo em um fundo sem assessoria. Os bancos, onde está concentrad­o o grosso do dinheiro, também estão se mexendo para mostrar que oferecem um serviço por trás”.

Não só o retorno do semestre ou do ano, é preciso am- > FUNDOS DE AÇÕES > FUNDOS DE RENDA FIXA > FUNDOS SIMPLES > FUNDOS CAMBIAIS PARA COMPARAR CDI (juros médios de empréstimo entre bancos) Ibovespa Poupança** Dólar Inflação (IPCA) Variações no semestre, em % pliar o horizonte de pesquisa e olhar a rentabilid­ade nos últimos cinco anos, se possível.

Desta forma, o investidor consegue avaliar a consistênc­ia do trabalho do gestor, ou seja, se ele entrega resultados positivos com regularida­de, e não apenas em um ano em que a indústria em sua maioria teve desempenho bom. SEMESTRE Para a indústria de fundos, os primeiros seis meses do ano podem ser divididos em antes e depois de 17 de maio. Nessa data veio à tona o vazamento da delação do empresário Joesley Batista, dono da JBS.

Joesley gravou o presidente Michel Temer supostamen­te falando sobre a solução de “pendências” com o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

A notícia provocou forte instabilid­ade no mercado financeiro no dia seguinte. A Bolsa precisou interrompe­r suas negociaçõe­s após cair mais de 10%, e o dólar disparou. Embora a notícia não tenha afetado expressiva­mente a captação dos fundos, houve impacto na rentabilid­ade de alguns produtos.

“Quando começou a nova gestão do Banco Central, o Brasil ganhou uma previsibil­idade que foi quebrada em 17 de maio”, afirma Paschoarel­li, um dos autores do ranking com o desempenho dos fundos no semestre elaborado pela Comdinheir­o, empresa especializ­ada na análise de investimen­tos.

“Se o semestre terminasse em 17 de maio, teríamos uma fotografia da indústria. Como vai até 30 de junho, a fotografia mudou muito. Muitos fundos perderam muito e não se recuperara­m até hoje.”

Na renda fixa, 106 dos 385 fundos (27,5%) bateram o CDI, de 5,61%. Oito perderam para a poupança, que rendeu 3,5%. Todos ganharam da inflação do período, de 1,18%.

No caso dos multimerca­dos, que aplicam em títulos públicos, mas também em moedas e ações, 145 dos 294 (49,3%) bateram o CDI. Mas 12 perderam para a inflação.

Os fundos de ações tiveram desempenho melhor: dos 212, 127 (59,9%) superaram o Ibovespa, sua referência.

A Comdinheir­o analisou fundos de bancos e gestoras que exigem aplicação mínima de até R$ 100 mil, com pelo menos cem cotistas e mais de R$ 5 milhões de patrimônio no fim de junho. Foram excluídos fundos exclusivos e voltados para grandes investidor­es.

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