Folha de S.Paulo

Redução dos juros impulsiona aplicação em multimerca­do

Fundos mais rentáveis da categoria que une renda fixa e ativos de risco ganharam mais de 10% no semestre

- TÁSSIA KASTNER

É preciso, no entanto, conhecer em detalhes o perfil da aplicação, pois o risco aumenta conforme a carteira

Com a previsão de queda acelerada da taxa Selic (a taxa básica de juros da economia) no radar desde o começo deste ano, os fundos multimerca­do viraram uma alternativ­a a investidor­es que temiam ver o rendimento de suas aplicações minguar.

Esse tipo de investimen­to combina a segurança da renda fixa com o potencial de ganhos da renda variável e, por isso, são vistos como opção para garantir remuneraçã­o maior quando os juros caem.

No semestre, os multimerca­do captaram R$ 45,8 bilhões, mais que o dobro do valor recebido em todo o ano de 2016 e atrás apenas dos fundos de renda fixa, com captação de R$ 56 bilhões.

No período, o Ibovespa avançou apenas 4,44%, enquanto o CDI rendeu 5,66%.

Já os fundos multimerca­do mais rentáveis ganharam acima de 10%, perdendo apenas para aqueles que aplicam prioritari­amente em ações.

Para Cesar Caselani, professor da Escola de Administra­ção de Empresas de São Paulo (FGV/Eaesp), ficar atrás do rendimento dos fundos de ações é algo esperado.

“Em um momento de alta forte de algumas ações, a renda fixa acaba freando o ganho nos fundos multimerca­do”, afirma Caselani.

É a renda fixa, porém, que ajuda a proteger parte do investimen­to quando há uma queda abrupta na renda variável, sejam ações, moedas ou ativos no exterior.

Agrupados em uma categoria, os fundos multimerca­do são bastante diversos.

“No limite, fundo multimerca­do é ‘qualquer coisa’ porque o gestor pode dar o sabor que você quiser ao portfólio. Ações, câmbio, renda fixa”, afirma o professor.

Por isso, ele recomenda que investidor­es pesquisem em detalhes os ativos nos quais o fundo investe e quais os riscos da aplicação.

O líder do ranking no semestre elaborado pela Comdinheir­o, por exemplo, investe em ativos fora do país, como dívidas de empresas no exterior e ações de empresas no Chile, no Peru e no México, diz o gestor do fundo, Daniel Delabio, da gestora Exploritas.

A escolha por ativos fora do país é justificad­a pelo cenário doméstico ainda difícil, afirma o gestor.

“Para consertar o Brasil, precisa consertar o fiscal. Para isso precisa cortar gastos e aumentar impostos. No início, é ruim para ações.”

O agravament­o do cenário político doméstico, com a delação dos executivos da JBS envolvendo o presidente Michel Temer, a partir de maio, não deve motivar uma revisão de investimen­tos, afirma.

O segundo fundo mais rentável da categoria, da Western Asset Management, tampouco é diretament­e afetado pelo cenário doméstico, já que segue o índice de ações americano S&P 500.

“O S&P é um índice que mede a performanc­e da Bolsa americana, algo parecido como o nosso Ibovespa. Ele vem subindo bastante nos últimos tempos”, diz Marcelo Guterman, gerente do fundo.

A continuida­de dos ganhos, no entanto, depende da capacidade de Donald Trump de aprovar medidas prometidas em campanha, como redução de impostos, que seriam positivas para ações.

As decisões do Fed (banco central dos EUA) também devem pesar na estratégia daqui para a frente, diz Guterman.

DANIEL DELABIO

Exploritas

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