Folha de S.Paulo

Leite mais gorduroso, bem aceito no mercado.

- ANA LUIZA TIEGHI

DE SÃO PAULO

Em 2011, a leiteria Chácara Santo Antônio não ia bem. Com dívidas de R$ 430 mil, a propriedad­e em Carambeí (a 137 km de Curitiba) corria o risco de ser fechada. Foi quando Marlene Kaiut, 30, decidiu tentar salvar o patrimônio da família.

Formada em administra­ção, sem nunca ter trabalhado na área, pediu para assumir o negócio. A cooperativ­a que comprava a produção duvidou que ela daria conta, mas Kaiut bateu o pé. “Não entendo do trabalho, mas entendo de números.”

Desde então, a história da fazenda mudou: o rebanho passou de 60 para 212 vacas, e a produção de leite quintuplic­ou. Kaiut ganhou dois prêmios de empreended­orismo e virou palestrant­e.

O começo não foi fácil. “Fiquei quase uma semana sem dormir com medo de não dar conta”, lembra.

No primeiro dia, avisou o único funcionári­o da fazenda que iria assumir o comando da leiteria e fazer mudanças. “Diga para o seu marido falar comigo, porque não recebo ordem de mulher”, disse. Foi demitido em seguida.

Quem a ensinou a lidar com as vacas e até a dirigir trator foi outro funcionári­o, contratado no mesmo dia.

No controle da fazenda, seu primeiro passo foi pegar R$ 40 mil emprestado­s da cooperativ­a e reformar o piso da área de ordenha. Seis meses depois, pediu outro empréstimo para comprar um tanque de leite. A cooperativ­a não quis dar o dinheiro, mas ela não desistiu. “Fui a uma loja e parcelei em 36 vezes”, diz. O reservatór­io melhorou a qualidade do leite, o que aumentou seu valor de venda.

Outra medida para valorizar o produto foi passar a trabalhar apenas com vacas da raça jersey, conhecidas pelo PASSADO E FUTURO A profissão dos sonhos de Kaiut passava bem longe do cheiro de estrume. Queria ser modelo. Chegou a fotografar coleções de roupas para lojas country e desfilar para marcas de lingerie, mas, seguindo um conselho do avô, casou-se aos 17 anos e logo teve a primeira filha.

Hoje, além de Yohanna, 12, ela também é mãe de Eibhilin, 1, e agora espera seu primeiro menino. Aos quatro meses de gravidez, ela é responsáve­l pela limpeza das vacas, faz o corte periódico dos cascos dos animais e a retirada do chifre dos bezerros. “Eu trabalhei até duas horas antes da Eibhilin nascer.”

Até assumir a leiteria, aos 24, foi dona de casa. Em seis anos, investiu mais de R$ 1 milhão na propriedad­e, que já recebeu pessoas de outros Estados e da Alemanha, além de estudantes interessad­os em aprender suas técnicas.

Em 2014, ganhou a etapa estadual do prêmio Mulher de Negócio, e em seguida conquistou o segundo lugar na etapa nacional. O sucesso rendeu convites para palestras. Já são mais de 60, a R$ 4.000 cada. Com o dinheiro, reformou a casa e comprou uma caminhonet­e.

Para o futuro, planeja ampliar seu rebanho de cem para 150 animais em lactação, fazer um espaço de confinamen­to e novos locais para armazenar a silagem de milho.

Ela também quer comprar uma fazenda para criar gado de corte, sonho compartilh­ado com o marido, Anselmo. Ele é responsáve­l pela produção de feijão, soja e milho da propriedad­e.

Kaiut confia na qualidade da produção leiteira do Paraná. “Não vejo ninguém reclamando do preço, mas sei que em outros Estados estão pagando menos”, afirma. Ela recebe até R$ 1,55 por litro produzido, enquanto produtores de outros Estados chegam a ganhar R$ 0,70.

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Kaiut virou palestrant­e e já fez mais de 60 apresentaç­ões

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