Folha de S.Paulo

Aceleração eletrizant­e

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Não passa de 2% a parcela dos carros elétricos no comércio mundial de veículos novos. Diante da cifra pouco entusiasma­nte, pode soar prematura a decisão da França e do Reino Unido de banir em 2040 a venda de automóveis com motores de combustão interna.

Com efeito, há grande incerteza nas previsões sobre a evolução desse ramo industrial. As estimativa­s de analistas do setor para a frota elétrica daqui a 23 anos oscilam de 100 milhões de unidades —nem 6% do total previsto de 1,8 bilhão de carros— a 266 milhões.

O serviço Bloomberg New Energy Finance projeta que 54% dos veículos novos vendidos em 2040 utilizarão baterias como fonte de energia propulsora e não combustíve­is fósseis, como gasolina e diesel.

Há dois fatores por trás da recente excitação com os elétricos. Primeiro, a queda de 73%, desde o ano 2000, no custo das baterias de íons de lítio. Depois, os cortes nas emissões de gases do efeito estufa com que os países se compromete­ram no Acordo de Paris.

Some-se a isso o sucesso dos bólidos elétricos da montadora Tesla, apesar dos preços salgados. A empresa dos EUA agora lança seu modelo “popular”, o 3, que será comerciali­zado a US$ 35 mil. Nada menos que 400 mil consumidor­es pagaram para reservar um.

Existem boas razões, assim, para acreditar na aceleração do mercado para esses veículos inovadores. Além de não poluir a atmosfera nem contribuir diretament­e para o aqueciment­o global, eles têm custo menor de manutenção e já chegam às ruas e estradas com sistemas avançados de autopilota­gem.

Tudo indica que a tecnologia baseada em combustão interna se destina ao ferro-velho. A demanda por petróleo também sofrerá, embora a eletricida­de para recarregar as baterias continue a ser fornecida, em várias partes, por usinas movidas a combustíve­is fósseis.

Contudo, a queda nos preços das baterias (preveem-se outros 50% de redução nos próximos anos) segue ritmo comparável à dos painéis solares, que geram energia sem agravar o efeito estufa. São revoluções tecnológic­as convergent­es.

Tal cenário já conduziu as grandes montadoras de automóveis a rever seus planos e a se preparar para impedir a Tesla de dominar o mercado. A sueca Volvo, por exemplo, anunciou que em 2019 só produzirá carros elétricos ou híbridos.

Os governos de países como França e Reino Unido vislumbram aí uma ajuda para cumprir suas metas de Paris e dão incentivos fiscais para acelerar a transição. Não o Brasil, ainda carente de política para tal modalidade de veículo.

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