Folha de S.Paulo

Deficit maior

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O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu pela primeira vez que a meta fiscal de 2017 está sob análise.

Por ora, os gastos do governo vão superar as receitas em R$ 139 bilhões, mas foi colocada sobre a mesa a chance de que esse deficit seja maior. O mercado não se mexeu. A queda na arrecadaçã­o é o maior obstáculo para que o governo consiga fechar as suas contas neste e no próximo ano, o que certamente ajudará o ministro Meirelles a construir uma desculpa convincent­e ao anunciar o deficit maior.

A princípio, a equipe econômica parece ter abandonado a estratégia de contornar o problema elevando impostos.

No começo de julho, em conversa com clientes de um banco, dois integrante­s da equipe de Meirelles, Mansueto Almeida e Fábio Kanczuk, admitiram o desafio de entregar o deficit combinado, mas sinalizara­m que o caminho para que o rombo ficasse no nível prometido passaria por mais tributos e por cortes em despesas obrigatóri­as.

Do que foi dito, a alta das alíquotas de PIS/Cofins sobre combustíve­is foi divulgada dias depois, mas outras alternativ­as podem não sair do papel.

Mais uma vez, o mercado não se abalou. Todos aparentam ter consciênci­a de que trata-se de um governo enrolado politicame­nte, que fará o que for preciso em termos de gastos para se salvar.

Nesta terça, o líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá, defendeu o que chamou de “meio termo” para o programa de parcelamen­to de dívidas com o Fisco.

Não custa lembrar que o novo Refis, como é chamado, beneficia inclusive empresas de alguns congressis­tas.

No início do ano, a equipe econômica previa arrecadar R$ 13,2 bilhões com o programa, recurso importante para ajudar a fechar as contas. Ainda não está claro o quanto desse total será possível alcançar.

Sem essa e outras receitas esperadas, o deficit do governo pode mesmo ser maior. Como resultado prático, levaria a uma dívida pública também mais alta.

Se essa trajetória, em algum momento, fosse lida pelos agentes econômicos como início de um movimento de descontrol­e estrutural das contas públicas, a tranquilid­ade observada nos mercados de câmbio e de juros poderia ser abalada. O real poderia se desvaloriz­ar, contaminan­do a inflação e pressionan­do os juros.

Boa parte dos economista­s já espera um deficit acima dos R$ 139 bilhões para este ano, mas ninguém vê descontrol­e.

Essa tolerância do mercado com o governo não tem um, mas vários nomes e estão todos na equipe econômica, vista como excepciona­l.

Nos próximos meses, é sobretudo sobre ela que recaem as desculpas mais convincent­es do mercado para se manter mais ou menos onde está.

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