Folha de S.Paulo

Para além da votação

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Ao que tudo indica, Michel Temer se salvará da primeira denúncia da Procurador­ia-Geral da República. Há pouquíssim­a chance de reviravolt­a na sessão marcada para esta quarta. A oposição admite que não reuniu os 342 votos necessário­s para afastar o presidente. Na melhor hipótese, conseguirá adiar a decisão até a próxima semana.

A principal dúvida em Brasília é sobre o dia seguinte à votação. O placar dará a medida do estrago causado pelo escândalo da JBS. A depender dos números, será possível projetar a força de Temer para tocar o governo e enfrentar novas turbulênci­as.

O presidente sonhava em chegar perto dos 300 votos a favor do arquivamen­to da denúncia. Neste caso, ele poderia dizer que continua com ampla maioria na Câmara. Bastaria recuperar mais alguns votos para aprovar mudanças na Constituiç­ão.

Nos últimos dias, esse cenário foi praticamen­te descartado pelo Planalto. Previsões mais realistas passaram a sugerir que o governo não passará dos 260 votos. Os aliados mais pessimista­s contabiliz­am apenas 220 deputados firmes com Temer.

Se esse quadro se confirmar, o presidente pode festejar uma vitória de Pirro. Ele escaparia da primeira denúncia, mas perderia a chamada governabil­idade. Viraria um zumbi no Planalto, sem condições de aprovar projetos relevantes e ainda mais refém da chantagem parlamenta­r.

Um Temer tão enfraqueci­do não teria mais como vender a promessa das reformas. Isso tornaria sua permanênci­a pouco atrativa a um empresaria­do que já flertou com a ideia de instalar Rodrigo Maia no Planalto. Uma vitória apertada ainda deixaria o presidente mais exposto às próximas flechas de Rodrigo Janot.

O PSOL levará malas de dinheiro para a porta do plenário. “É para lembrar aos colegas do que trata a denúncia”, diz o deputado Chico Alencar. Antes que alguém se anime, um aviso: as cédulas serão de mentira.

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