Em véspera de votação, Temer afaga ruralistas e ‘baixo clero’
Sessão para apreciar denúncia está marcada para hoje, mas depende de quorum
Vice-líder do governo estima que oposição só terá até 130 dos 342 votos que precisa para prosseguir com processo
O governo tenta nesta quarta-feira (2) enterrar de vez a primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Michel Temer.
O presidente é acusado do crime de corrupção passiva por supostamente ser o destinatário da mala com R$ 500 mil repassados pela JBS a Rodrigo Rocha Loures, seu exassessor. Esta é a primeira vez que um presidente é denunciado no exercício do cargo.
Temer passou a terça-feira (1º) em busca de apoio. Recebeu ao menos 35 deputados —incluindo o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PPSP)—, almoçou com 58 ruralistas e foi a um jantar para o qual foram convidados 100 integrantes do “baixo clero”.
Ele acenou aos ruralistas (210 votos) com medida provisória reduzindo a alíquota da contribuição do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural e parcelando pagamentos atrasados com descontos.
Além disso, mandou de volta à Câmara 10 ministros e contou com a boa vontade de partidos como PR e PSD, que fizeram ao menos dois secretários estaduais retomarem seus assentos como deputados para tentar engrossar os votos a favor do governo.
Houve ajuda até do PT. O governador Rui Costa (BA) tirou os cargos de dois secretários que, de volta à Câmara, não se alinham ao “Fora, Temer”. O argumento do grupo baiano é que ele é menos pior que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), primeiro na linha sucessória.
No recesso parlamentar, Temer já havia liberado emendas, distribuído cargos a aliados e informou que traições seriam retribuídas com perda de espaço no governo.
Para evitar que Temer seja investigado pelo Supremo Tribunal Federal, o Planalto, em tese, não precisa fazer muito esforço, já que é a oposição quem precisa de 342 votos dos 513 deputados para dar seguimento à denúncia na sessão marcada para começar às 9h.
No entanto, o governo precisa da oposição para conseguir que 342 deputados registrem presença para que a votação comece.
Nas contas de Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo, Temer tem 280 votos a favor dele. Ele contabiliza 51 deputados indecisos e 57 traições. Segundo os cálculos do deputado, a oposição terá entre 125 e 130 votos.
Segundo enquete da Folha, há 105 deputados a favor do governo e 195 contra. No entanto, 209 não quiseram se posicionar. Quatro não votarão.
A tropa de choque de Temer passou a terça em conversas para convencer, mesmo quem pretende votar contra, que marque presença.
Os aliados de Temer também prepararam material com trechos da defesa e o que consideram frágil na denúncia. Os panfletos serão distribuídos durante a sessão.
Maia disse acreditar que haverá quorum para a votação. Para o deputado, o processo deve ocorrer entre 14h e 19h.
Temer terceirizou para a oposição a responsabilidade de garantir a votação. “A Câmara decide, e eu aqui só espero. Quem tem que votar são aqueles que querem destruir aquilo que a CCJ decidiu”, afirmou. Em julho, após uma série de trocas de integrantes que votariam contra o governo, a CCJ rejeitou parecer que era favorável à denúncia e aprovou um outro favorável ao presidente da República.
Apesar de não precisar de maioria para que Temer escape da denúncia, o governo precisa imprimir um placar robusto para sinalizar que tem base forte para aprovar as reformas como a da Previdência e a tributária.
A manutenção do apoio do mercado financeiro ao governo se sustenta justamente na perspectiva de aprovação dessas reformas.
Aliados calculam que um + 5 min cada um Total: 513 deputados + 5 min cada um + 1 min cada
REGISTRO
Cada deputado será chamado ao microfone para proferir seu voto resultado “muito bom” seria em torno de 300 votos.
Rodrigo Maia avalia que há parlamentares contrários a Temer que serão favoráveis à pauta reformista, como alguns deputados do PSDB.
Além disso, a PGR promete para breve uma segunda denúncia contra o presidente.
(DANIEL CARVALHO, ANGELA BOLDRINI, GUSTAVO URIBE, BRUNO BOGHOSSIAN, MARINA DIAS, MAELI PRADO E JOÃO PEDRO PITOMBO)