Folha de S.Paulo

STF solta procurador e advogado presos em razão da delação da JBS

Angelo Villela e Willer Tomaz são acusados de darem informaçõe­s à empresa sobre operação

- LETÍCIA CASADO

Ministros que votaram pela soltura disseram que eles não constituem mais ameaça potencial às investigaç­ões

Na primeira sessão do semestre, a Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) soltou o procurador Ângelo Villela e o advogado Willer Tomaz, presos em decorrênci­a da delação da JBS.

Eles foram detidos em 18 de maio, na operação Patmos, cujas investigaç­ões atingiram o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Relator do caso, o ministro Edson Fachin votou contra o pedido de liberdade e foi seguido pelo decano do STF, Celso de Mello. Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowsk­i votaram a favor da soltura dos investigad­os. O ministro Dias Toffoli não participou da sessão. Como deu empate, a decisão é favorável ao preso.

Lewandowsk­i, que proferiu o voto vencedor, afirmou que, desde a prisão, a situação do procurador mudou.

Segundo ele, Villela não interfere na instrução do processo e nem obstrui as investigaç­ões. “Se num primeiro momento subsistiam, as razões não mais se sustentam [para a prisão]”, afirmou.

Villela terá que cumprir medidas cautelares. Ele foi suspenso da função, mas vai continuar recebendo salário; está proibido de ingressar em dependênci­as do Ministério Público, de manter contato com demais investigad­os e de viajar sem pedir permissão ao juiz. Ele também terá que cumprir recolhimen­to domiciliar no período noturno.

As medidas foram estendidas a Tomaz, mas, por não ser funcionári­o público, ele pode continuar trabalhand­o.

Villela pediu ainda que o caso fosse remetido ao TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) porque ele mora em Brasília, e os ministros concordara­m. Como procurador, Villela tem prerrogati­va de foro por função.

O caso estava sendo investigad­o no TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), e Villela e Tomaz chegaram a ser denunciado­s.

Joesley Batista citou o envolvimen­to de Villela e Tomaz em esquema de corrupção para receber informaçõe­s sobre a operação Greenfield, que apura fraudes em fundos de pensão e atingiu negócios do grupo da J&F. Segundo Joesley, Villela foi infiltrado na força-tarefa da operação.

O empresário disse ainda que contratou o escritório de Tomaz por R$ 8 milhões, sendo R$ 4 milhões de pagamento inicial e mais R$ 4 milhões após o arquivamen­to do caso. Tomaz, segundo o delator, dava uma “ajuda de custo” de R$ 50 mil para Vilella em troca de informaçõe­s.

Os advogados de Villela e de Tomaz afirmaram que a decisão vai em linha com o relaxament­o da prisão de outros investigad­os. Dizem que justiça foi feita e que os delatores da JBS mudaram de versão ao longo dos depoimento­s.

“Todos os investigad­os da operação Patmos não mais estavam presos, e somente Ângelo e Willer Tomaz continuava­m em prisão preventiva”, disse Gustavo Badaró, que defende Villela.

“Eles foram presos com base em delação. Não tem gravação, filmagem ou e-mail. Foi fato criado pelos delatores”, afirmou Rafael Araripe, advogado de Tomaz.

 ??  ??
 ?? Reprodução ?? O advogado Willer Tomaz (à esq.) e o procurador Angelo Villela em foto feita por delator
Reprodução O advogado Willer Tomaz (à esq.) e o procurador Angelo Villela em foto feita por delator

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil