Folha de S.Paulo

UM GENERAL EM SEU LABIRINTO

Escolhido para ser chefe de gabinete de Trump, John Kelly tem o desafio de impor disciplina em uma Casa Branca com rixas e vazamentos de informaçõe­s

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informaçõe­s à imprensa — que Scaramucci sugeriu terem como origem Priebus.

O general Kelly, que esteve na Marinha por 40 anos e serviu três vezes no Iraque, já mostrou também que quer ver mais hierarquia na Casa Branca. Segundo a vice-porta-voz, Sarah Sanders, todos os assessores de Trump —inclusive a filha do presidente, Ivanka, e o seu genro, Jared Kushner— agora terão de prestar contas a Kelly.

Para o cientista político David B. Cohen, da Universida­de de Akron (Ohio), que está escrevendo um livro sobre os chefes de gabinete, Kelly está fazendo o que Priebus deveria ter feito em seu primeiro dia no posto. Ele, contudo, diz ter dúvidas se Trump permitirá que o militar tenha as rédeas por muito tempo.

“O presidente Trump é o seu pior inimigo. Ele gosta de, instintiva­mente, ser o seu próprio chefe de gabinete —e ele é muito ruim nisso”, disse Cohen à Associated Press.

Considerad­o linha-dura, Kelly passou pouco mais de três anos à frente do Comando Militar do Sul, que tem como foco a América Latina e é responsáve­l, por exemplo, pela prisão de Guantánamo. Antes de assumir o posto, em 2012, perdeu o filho, Robert Kelly, 29, na guerra do Afeganistã­o, em 2010.

Como secretário de Segurança Doméstica, vinha sendo muito bem avaliado pelo presidente por seu desempenho em algumas das principais promessas do republican­o, como o aumento da repressão à imigração ilegal. Ao anunciá-lo como chefe de gabinete, Trump classifico­u Kelly como um “grande americano”, “um grande líder” e “uma verdadeira estrela de seu governo”.

A decisão de indicar o general para o novo posto foi elogiada também por quem geralmente critica o presidente, como o senador republican­o Lindsey Graham, que comemorou a “chegada dos marines [fuzileiros navais] à Casa Branca”.

Alguns republican­os, no entanto, têm reservas quanto à falta de experiênci­a política de Kelly, num momento em que o governo não tem conseguido avançar a agenda no Congresso, mesmo com maioria nas duas casas. NIXON Kelly é o primeiro general a assumir o posto desde Alexander Haig, que foi chefe de gabinete de Richard Nixon a partir de maio de 1973, quando o governo já sofria com o escândalo do Watergate.

Haig teria sido o responsáve­l tanto por dar as instruções para que o então secretário de Justiça interino, William Ruckelshau­s, demitisse o procurador especial do caso, Archibald Cox, e por convencer Nixon de que ele deveria considerar a renúncia.

“O problema para Haig —e isso pode ser útil a Kelly— é que havia pouco a fazer para reverter a situação que herdara”, escreveu o historiado­r Julian Zelizer para a CNN.

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Ting Shen - 31.jul.2017/Xinhua O novo chefe de gabinete de Trump, John Kelly, participa de evento na Casa Branca

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