Folha de S.Paulo

Fazenda tenta conter pressão para rever aperto fiscal e liberar gastos

Equipe econômica admite que revisão da meta será inevitável, mas diverge da ala política do governo

- BRUNO BOGHOSSIAN MARINA DIAS

Para evitar perda de credibilid­ade, Meirelles quer aumento do rombo previsto neste ano para no máximo R$ 149 bi

Sob pressão para rever a meta de aperto fiscal e liberar mais recursos para gastos do governo, o Ministério da Fazenda trabalha para conter abaixo de R$ 10 bilhões o aumento do rombo previsto para o Orçamento deste ano.

A equipe econômica já vê como inevitável a mudança na meta fiscal estabeleci­da pelo governo, que prevê um deficit de R$ 139 bilhões neste ano. A avaliação é que será melhor para a credibilid­ade da política econômica rever a projeção agora do que insistir em um objetivo que é impossível de ser atingido.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, propõe que a expansão do deficit seja a menor possível, suficiente para cobrir alguns gastos, mas capaz de sinalizar ao mercado que o governo mantém o compromiss­o com o equilíbrio das suas contas.

Parte do núcleo político do governo Michel Temer, por sua vez, trabalha por um aumento mais ousado da meta, próximo dos R$ 20 bilhões, que permitiria liberar gastos e abrir espaço para investimen­tos que estão represados.

Auxiliares do presidente afirmam que o número ainda não está fechado, mas preferem que a revisão permita um alívio mais significat­ivo do Orçamento, que desde o iní- cio do ano bloqueou R$ 45 bilhões dos recursos previstos no Orçamento, prejudican­do o funcioname­nto de serviços públicos e ampliando o desgaste do governo e de Temer.

A Câmara dos Deputados se reúne nesta quarta (2) para analisar a denúncia criminal apresentad­a pelo Ministério Público contra o presidente.

A equipe econômica e a ala política do governo concordam que a meta deste ano tem que permanecer abaixo do deficit registrado no ano passado, de R$ 159,5 bilhões.

Mesmo a ala política entende que igualar esse número transmitir­ia a mensagem de que não houve ajuste e daria ao mercado uma impressão de descontrol­e dos gastos.

Em conversa recente, Meirelles disse a Temer que já recebeu sinais positivos de bancos e economista­s que consideram a mudança da meta inevitável e afirmaram que ela não reduziria a credibilid­ade da equipe econômica. FATORES Segundo integrante­s da Fazenda, a dimensão do aumento do deficit será definida a partir da observação de três fatores considerad­os chave.

Primeiro, o desempenho da arrecadaçã­o de impostos em julho e os primeiros indicadore­s de agosto, para avaliar se os dados positivos de junho foram só um respiro ou se representa­m uma trajetória de recuperaçã­o sustentáve­l.

Também haverá uma avaliação sobre a possibilid­ade de reverter mudanças feitas pelo Congresso em projetos que gerariam receitas para o governo, como o programa de regulariza­ção de dívidas tributária­s e a reoneração da folha de pagamento. O governo contava com o novo Refis para arrecadar R$ 13 bilhões neste ano, mas seu projeto foi desfigurad­o pelo Congresso.

Meirelles se reuniu nesta terça (1º) com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), para negociar um acordo que permita recuperar parte da arrecadaçã­o pretendida pela Fazenda com o Refis.

Maia se compromete­u a discutir o assunto com líderes e o relator da medida. “Alguns deputados levantaram que nem tudo o que foi acordado com Temer e a Fazenda foi incluído na medida provisória. Vamos analisar”, disse.

O governo também articula a aprovação da medida provisória que acabou com a desoneraçã­o da folha de pagamento de diversos setores, que só deve valer em 2018.

Se o empenho do governo for frustrado, a equipe econômica admite que poderá ser necessário alterar também a meta fiscal de 2018, que prevê deficit de R$ 129 bilhões.

Nesse caso, o governo quer fazer uma revisão conjunta das contas, deste e do próximo ano, até 31 de agosto, fim do prazo para apresentaç­ão da Lei Orçamentár­ia de 2018.

DE BRASÍLIA

O senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Congresso, defendeu que governo e parlamenta­res cheguem a um “meio-termo” sobre uma proposta para o Refis, programa de parcelamen­to de dívidas com o fisco.

O Refis emperrou na Câmara, com a proposta do deputado Newton Cardoso Jr (PMDB-MG) que cria, aos olhos da equipe econômica, condições considerad­as muito vantajosas para os devedores.

Estimativa­s de técnicos da Receita e da Procurador­ia-Geral da Fazenda apontam que, pela proposta de Cardoso, a União vai conseguir arrecadar R$ 417 milhões neste ano.

Os ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Dyogo Oliveira (Planejamen­to) já indicaram que a área econômica recomendar­á o veto à proposta.

Meirelles defende o restabelec­imento do texto original, enviado pelo Executivo ao Congresso.

O governo conta com o programa para garantir entre R$ 13 bilhões e R$ 15 bilhões em receitas e evitar um deficit ainda maior nas contas públicas.

Jucá propôs nesta terçafeira (1º) que os dois lados cheguem a um ponto comum. “Esperamos que seja feito um entendimen­to e se chegue a um denominado­r comum. Necessaria­mente nem o relatório do deputado Newton nem a proposta original do governo”, disse, após reunião no Ministério da Fazenda.

Segundo ele, essa proposta intermediá­ria ainda não foi desenhada, mas está sendo discutida internamen­te.

(MARIANA CARNEIRO)

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Pedro Ladeira/Folhapress O ministro Henrique Meirelles deixa a casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com o deputado Aguinaldo Ribeiro

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