Folha de S.Paulo

Incerteza política reduz venda de veículos em julho

- LUCAS VETTORAZZO

A indústria confirmou no encerramen­to do primeiro semestre um comportame­nto errático, intercalan­do altas e baixas e com dificuldad­e para encontrar caminho sustentáve­l de recuperaçã­o.

A produção industrial do país ficou estável em junho, após altas em abril (1,3%) e maio (1,2%), divulgou o IBGE nesta terça-feira (1º).

Os aumentos se concentrar­am em setores que se beneficiam da exportação, como produtos alimentíci­os (4,5%), indústria extrativa (1,3%) e papel e celulose (1,2%).

Os bens de capital, que são as máquinas utilizadas nas linhas de produção e o principal termômetro de investimen­tos, tiveram aumento na comparação de maio e junho, de 2%. Segundo analistas ouvidos pela Folha, porém, a boa notícia vem em termos relativos, já que são principalm­ente equipament­os agrícolas, com foco na exportação.

Setores ligados à demanda interna, como derivados de petróleo (-1,7%), veículos automotore­s (-3,9%) e produtos de informátic­a (-4,9%), permanecem com desempenho fraco. O cenário atual do mercado interno ainda não enseja mudança de patamar da produção da indústria, que atualmente está 20% menor do que a registrada em mea- dos de 2013.

Na comparação anual, de junho com igual período de 2016, a indústria teve ligeira alta, de 0,5%, superando a expectativ­a de analistas, que previam queda de 0,3%.

A produção continua a oscilar entre os meses. Janeiro (1,6%), março (1,7%) e maio (4,1%) foram de altas, enquanto fevereiro (-0,6%) e abril (-4,4%) foram de quedas. Junho completa a segunda alta seguida, mas a variação foi tímida e concentrad­a em 13 dos 24 setores.

Segundo o economista da CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria) Marcelo Souza Azevedo, a indústria se encontra no “momento de transição”, em busca do patamar ideal de produção.

Como os últimos três anos foram de crise aguda, espalhada por diversos segmentos, a recuperaçã­o tende a ser lenta e pouco disseminad­a. “Não conseguimo­s ainda ver resultado positivo de forma generaliza­da para falarmos em recuperaçã­o”, disse.

Ele afirma que as indústrias que não têm foco em exportação —e, portanto, não estão aproveitan­do o momento de dólar alto— estão usando o período para se recuperar financeira­mente e evitar riscos desnecessá­rios, como o de ficar com estoques altos.

Nesse sentido, o movimento de redução da taxa básica de juros, a Selic, pode ter efeito positivo no médio prazo, diz. No primeiro semestre deste ano, o faturament­o da indústria caiu 5,9% e o emprego recuou 3,9%, de acordo com pesquisa da CNI.

“Após longo período de demissões, queda na produção e no faturament­o, a indústria está com as finanças muito debilitada­s. O momento é de preparação para uma recuperaçã­o lá na frente.” REFORMAS Relatório do Itaú BBA diz que o resultado positivo de junho sugere que o impacto da incerteza política ainda é limitado e destaca a necessidad­e de se avançarem as reformas econômicas para uma retomada consistent­e do setor.

O Bradesco ressalta que o resultado indica a estabiliza­ção da produção, sem força, contudo, para mudar as previsões de queda para o PIB do segundo semestre.

No acumulado em 12 meses até junho, a indústria amarga perda de 1,9% na produção. A queda, embora ruim, tem sido menor a cada mês, o que indicaria que o pior já passou, segundo o economista Everton Carneiro, da RC Consultore­s. Em março do ano, por exemplo, a retração havia sido de 10%.

“Eu diria que há um movimento de recuperaçã­o porque claramente o pior já passou. No entanto, o ritmo é lento e devemos levar de 10 a 15 anos para recuperar a produção que tínhamos em 2013.”

DA REUTERS

As vendas de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus novos no Brasil caíram 5,2% em julho sobre junho, mas avançaram 1,9% na comparação com o mesmo mês do ano passado, afirmou nesta terça (1º) a Fenabrave (associação dos revendedor­es).

Os licenciame­ntos do mês passado somaram 184.838 unidades, o equivalent­e a 8.801 emplacamen­tos por dia útil, acima da média para o ano de 8.137, indicando que as vendas do setor estão em linha com expectativ­as da indústria de melhoria gradual a partir de meados deste ano.

O presidente Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior, afirmou que a queda nas vendas na comparação com junho já era esperada por fatores que incluem “as incertezas do atual cenário político”.

A entidade representa­tiva das concession­árias mantém “expectativ­as positivas” para o segundo semestre com base em “maior oferta de crédito e melhora dos índices de confiança”.

A Fenabrave espera alta de 4,3% nas vendas de carros e comerciais leves em 2017, para 2,07 milhões de unidades. De janeiro a julho, o segmento teve licenciame­ntos de 1,17 milhão de unidades, alta anual de 3,95%.

Já para caminhões e ônibus, a expectativ­a da entidade é de queda de 10,2% nas vendas neste ano.

 ?? Giovanni Bello - 30.mar.17/Folhapress ?? Setores voltados à exportação se destacam, e os concentrad­os no mercado interno sofrem retração no mês Operário em fábrica de fio têxtil; nível de produção da indústria está 20% abaixo do registrado em 2013, diz o IBGE
Giovanni Bello - 30.mar.17/Folhapress Setores voltados à exportação se destacam, e os concentrad­os no mercado interno sofrem retração no mês Operário em fábrica de fio têxtil; nível de produção da indústria está 20% abaixo do registrado em 2013, diz o IBGE

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil