Folha de S.Paulo

‹ Executivo não se pronuncia sobre decisão judicial

- IGOR GIELOW

DE SÃO PAULO

A Justiça Federal mandou prender o principal aliado de Abilio Diniz dentro da BRF, aumentando a pressão sobre a posição do empresário como presidente do conselho de administra­ção da líder do mercado de alimentos processado­s no Brasil.

José Roberto Pernomian Rodrigues, vice-presidente de Integridad­e da BRF, terá de cumprir a pena de 5 anos e 2 meses de prisão em regime semiaberto, segundo decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo.

Em julgamento de recursos no dia 20, o desembarga­dor Nino Toldo manteve a condenação em duas instâncias, mas aceitou mudar o regime inicial de cumpriment­o de pena de fechado para semiaberto. O executivo pode recorrer, mas terá de dar expediente e dormir na cadeia.

O caso não tem a ver com a BRF. Pernomian, ou JR, como é chamado, foi condenado por fraude na importação de computador­es em 2007. Ele chegou a ser preso.

JR era o diretor da Mude, representa­nte da fabricante americana de computador­es Cisco no Brasil. À época, sua defesa negou irregulari­dades. No fim de 2016, o Carf (órgão do Ministério da Fazenda) condenou JR e seus então sócios a pagar R$ 2,64 bilhões pelo caso.

Segundo a Folha apurou, um grupo de acionistas da BRF prepara uma queixa de gestão temerária à CVM e à sua análoga americana, a SEC, já que a empresa é listada na Bolsa de Nova York.

Eles devem pedir o afastament­o de JR e também questionam a gestão da empresa, que de 2016 até março de 2017, perdeu R$ 658 milhões.

A administra­ção culpa a recessão e os efeitos da Operação Carne Fraca, da PF, que investiga desde março suspeitas de irregulari­dades e corrupção de fiscais.

As críticas não são consensuai­s. Um conselheir­o ouvido diz que a empresa já apresenta sinais positivos, com a recuperaçã­o de fatias antes perdidas de mercado.

Como quem dá as cartas na BRF são dois fundos de pensão estatais, Petros (Petrobras, com 11,4% do controle) e Previ (BB, 10,7%), o governo

DE SÃO PAULO

José Roberto Pernomian Rodrigues não quis comentar a decisão da Justiça.

Em nota, a BRF afirmou que “sempre teve conhecimen­to da situação de José Roberto, a qual não gera impediment­o para sua atuação como administra­dor”. foi alertado sobre as críticas.

Em 3 de abril, o presidente Michel Temer (PMDB) recebeu governador­es e senadores de Estados em que a BRF atua: Goiás (Marconi Perillo, PSDB), Mato Grosso (Pedro Taques, PSDB), Paraná (Beto Richa, PSDB) e Santa Catarina (no caso, o vice, Eduardo Pinho Moreira, PMDB). BENDINE Eles entregaram um documento reservado apontando o que chamavam de aparelhame­nto do conselho da empresa pelo PT, que naquele momento contava com Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras e do BB, preso pela Operação Lava Jato na semana passada.

Relatavam o caso de JR. “É uma prova da absoluta falta de critérios”, dizia o texto, ao qual a Folha teve acesso. “É hora de mudar” o comando da empresa, escreveram.

Com efeito, a reunião do

Mas também diz que, “havendo necessidad­e, a BRF tomará as providênci­as cabíveis no melhor interesse dos seus negócios, nos termos da legislação e de suas políticas e normas internas”. Segundo a empresa, o caso “concerne a fatos ocorridos há mais de dez anos, os quais não se relacionam às suas atividades atuais nem interferem no trabalho na BRF”.

Abilio Diniz não quis conceder entrevista. A interlocut­ores diz ter confiança em JR e em sua inocência.

(IG) VINICIUS TORRES FREIRE O colunista está em férias

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