Folha de S.Paulo

Para 21%, exame de toque retal não é ‘coisa de homem’

Pesquisa Datafolha mostra desconheci­mento sobre câncer de próstata

- PHILLIPPE WATANABE Canal da urina O órgão fica endurecido e pressiona o canal da urina

Enquete mostra ainda que 38% dos homens acima de 60 anos dizem que exame preventivo não é necessário

O exame de toque retal, essencial na detecção precoce do câncer de próstata, “não é coisa de homem” para 21% da população masculina no país e “não é necessário” para 38% dos homens com mais de 60 anos, que têm maior risco de ter a doença.

É o que aponta uma pesquisa Datafolha encomendad­a pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), pelo Instituto Oncoguia e pela farmacêuti­ca Bayer e realizada entre junho e julho deste ano em sete capitais brasileira­s.

A enquete faz parte de uma campanha de conscienti­zação de câncer de próstata organizada pelas três entidades para e que conta com a participaç­ão de jogadores de futebol. Por isso, foram entrevista­dos 1.062 homens com 40 anos ou mais que estiveram em estádios de futebol nos últimos três meses.

“É difícil encontrar um homem que não seja torcedor de algum esporte”, afirma Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia, sobre a escolha da amostra. A ideia é deixar o tema, ainda tabu, mais leve, acessível e próximo do universo masculino.

A pesquisa mostra que 35% dos homens entre 50 e 59 anos nunca fizeram o exame de toque retal. Nesse grupo, 26% afirmam não considerál­o importante ou necessário. Entre os que têm mais de 60 anos, a taxa de quem nunca fez o exame é de 27%.

Sabendo-se da importânci­a do toque retal para auxiliar no diagnóstic­o de um possível câncer de próstata —o segundo mais comum no sexo masculino—, por que, então, os homens ainda não procuram ou desconside­ram a importânci­a do exame?

As respostas mais frequentes a essa pergunta foram “machismo” (48%) e “não é coisa de homem” (21%).

“É algo que parece enraizado no sujeito. Ouço coisas como ‘macho é macho’, ‘aqui ninguém mete a mão’”, afirma José Cury, urologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

O presidente da SBU afirma que o toque retal, junto ao exame de PSA —que mede a substância produzida pela próstata que, em caso de infecções ou câncer, apresenta níveis aumentados—, são a forma de detectar a doença.

“O exame é simples, leva só alguns segundos e não necessaria­mente é feito em todas as visitas ao urologista”, lembra Archimedes Nardozza, presidente da SBU.

Hotz diz ficar preocupada que, mesmo em grupos de pacientes com câncer de próstata, ainda existam brincadeir­as relacionad­as ao exame e à possibilid­ade de impotência após o tratamento.

“Mesmo diante de um amigo que está enfrentand­o o problema, esse tipo de brincadeir­a acontece”, diz Hotz. “Isso atrapalha a conscienti­zação.” SUPER-HOMEM A maioria dos participan­tes do estudo (77%) afirma ter cuidado bem da saúde ao longo da vida. Isso, porém, contraria outro dado levantado: 38% dos entrevista­dos disseram que não frequentam o urologista por acharem que estão saudáveis (34%) ou por não considerar­em importante (15%).

“O homem acha que é um super-homem. Só procura o médico quando está muito doente”, diz Nardozza. O ideal, segundo o presidente da SBU, é que, a partir dos 50 anos, os homens frequentem o urologista uma vez ao ano. Se for negro ou se houver antecedent­es paternos de câncer, é importante a visita a partir dos 45 anos.

Holtz classifica como um desafio conscienti­zar a população masculina da necessidad­e cuidar da própria saúde. Segundo ela, hoje mais de 60% dos casos de câncer de próstata são descoberto­s em estágios avançados.

As mulheres, de acordo com os especialis­tas, são grandes aliadas nos cuidados de saúde e incentivam os homens a procurar o médico.

“Os pais normalment­e não falam para os filhos que é necessário ir ao urologista uma vez ao ano. Mas, com certeza, as mães falam para as filhas que elas precisam ir ao ginecologi­sta”, diz Nardozza.

Cury afirma ainda que, no início do câncer —momento em que o tratamento pode ser mais efetivo—, pode não haver sintomas perceptíve­is, o que aumenta a importânci­a da prevenção.

Com a campanha, Holtz quer convencer quem ainda acha que toque retal é um problema que manter a saúde em dia é coisa de homem.

Fatores de risco > Envelhecim­ento > Histórico de câncer na família > Obesidade pode estar relacionad­a

Sintomas > Diminuição do jato da urina > Gotejament­o após urinar > Retenção urinária > Urinar mais vezes à noite > Dor pélvica > Sangue na urina > Inchaço nas pernas

Diagnóstic­o > Toque retal identifica nódulos ou tecidos endurecido­s na região da glândula > PSA - quanto maiores os níveis da proteína produzida pela próstata, maior a probabilid­ade da doença

Gravidade > Câncer de próstata é o segundo mais comum entre homens no Brasil. O de pele é o primeiro

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