Folha de S.Paulo

Esgrimista competiu suspensa por doping

Mônica Santos, que foi flagrada em maio de 2016 e esteve na Paraolimpí­ada-2016, disputou evento mesmo punida

- PAULO ROBERTO CONDE

Comitê paraolímpi­co e atleta culpam federação internacio­nal por atraso na comunicaçã­o do resultado positivo

Em uma grave infração, a esgrimista paraolímpi­ca Mônica Santos, 34, disputou o Campeonato Brasileiro da modalidade, em novembro, suspensa por doping.

Ela foi flagrada com a substância furosemida em torneio regional em São Paulo, em 26 de maio de 2016. A competição lhe rendeu a vaga nos Jogos Paraolímpi­cos do Rio, que foram realizados quase quatro meses depois, do qual a gaúcha saiu sem medalhas.

A furosemida é um diurético, mas pode ser usada para mascarar a presença de outras drogas no organismo.

O que ocorreu entre o exame, a Paraolimpí­ada e o Brasileiro foi uma sucessão de confusões e desinforma­ção que põe em xeque a credibilid­ade no combate ao doping.

O teste antidoping em maio de 2016 que revelou a substância no corpo da esgrimista foi feito pela Federação Internacio­nal de Esportes para Cadeirante­s e Amputados (cuja sigla em inglês é IWAS).

Tanto a atleta quanto o CPB (Comitê Paralímpic­o Brasileiro) culpam o órgão internaci- onal pela trapalhada.

Ambos argumentam que a punição a Mônica passou a vigorar a partir de 19 de outubro —quase cinco meses após a coleta das amostras dela—, mas só souberam disso em 30 de novembro, quando foram notificado­s pela IWAS do teste positivo e da suspensão de nove meses que foi imposta.

Apesar das alegações de má comunicaçã­o, IWAS e CPB têm um representa­nte em comum: Valber Lázaro Nazareth, que coordena a esgrima em cadeira de rodas para o comitê, também é membro do comitê executivo da federação para a modalidade.

Indagado pela Folha, Nazareth disse que não soube do caso de Mônica porque ele correu em sigilo na IWAS.

Os prazos entre a coleta e a sanção da para-atleta extrapolam e muito as determinaç­ões da Wada (Agência Mundial Antidoping). Ela recomenda que o julgamento e as punições ocorram o mais rapidament­e possível.

Ou seja, de jeito algum poderiam levar cinco meses.

Outro ponto é que todos os resultados da brasileira deveriam ser anulados a contar da data do recolhimen­to do material biológico, em maio.

Não foi o que ocorreu. Neste ínterim, a esgrimista competiu no Brasileiro da modalidade, em novembro, irregularm­ente. O CPB afirmou, por meio de nota, que anulou os resultados obtidos pela atleta na competição tão logo recebeu o aviso de sua suspensão. Porém, nunca divulgou publicamen­te o caso.

“Ao receber a notificaçã­o, o CPB imediatame­nte anulou os resultados de Mônica no Campeonato Brasileiro, realizado naquele mês, e alertou à atleta que a IWAS mandara um comunicado para ela quando da decisão da suspensão preventiva, em 19 de outubro”, disse a entidade.

Mônica assegurou que não recebeu o comunicado da federação. “Ainda não tinha recebido a notificaçã­o, não sabia que eu estava suspensa”, afirmou a esgrimista, que é paraplégic­a, à Folha.

Oficialmen­te, a punição de Mônica terminou no último dia 19. “Eu quero olhar para frente e voltar a fazer o que mais gosto. Não cabe mais procurar culpados”, disse.

A Wada afirmou que entraria em contato com o CPB e a IWAS e, no momento, não fará comentário­s a respeito.

A IWAS não respondeu aos questionam­entos da Folha desde o dia 13 de julho.

O Brasil atravessa problemas no combate ao doping. A Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem foi alvo de investigaç­ão da Wada.

A agência nacional esteve descredenc­iada entre novembro e abril devido a falhas de conformida­de com o Código Mundial Antidoping.

 ?? Marco Antonio Teixeira - 2.set.2016/MPIX/CPB ?? A esgrimista paraolímpi­ca Mônica Santos em treino no Parque Olímpico do Rio de Janeiro, em setembro do ano passado
Marco Antonio Teixeira - 2.set.2016/MPIX/CPB A esgrimista paraolímpi­ca Mônica Santos em treino no Parque Olímpico do Rio de Janeiro, em setembro do ano passado

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