Sensação da Copa-94, Hagi criou time que tenta avançar na Liga dos Campeões
Todas as edições da revista masculina “Hustler” mostram uma mulher nua na capa. Todas, menos uma. A capa da versão romena da publicação de abril de 2001 tem uma foto do meia Gheorghe Hagi. Vestido, claro, ele era o entrevistado da publicação.
Dezesseis anos depois, o ex-jogador está prestes a conseguir outra façanha.
Nesta quarta (2), o Viitorul Constanta (ROM) enfrenta o Apoel Nicosia (CHP) pela Liga dos Campeões. Se conseguir a classificação, estará a dois jogos da fase de grupos da competição de clubes mais importante do futebol europeu. O Viitorul foi criado por Hagi há nove anos. Ele é o fundador, presidente, supervisor das categorias de base e técnico do time principal.
“Eu coloquei meu dinheiro nesse projeto. O risco é meu. Se dependesse das autoridades do futebol romeno, nada disso teria acontecido. Tenho orgulho, mas também certeza de que está apenas começando”, afirmou Hagi, em entrevista à Folha por telefone na semana passada.
Foram € 10 milhões (R$ 37 milhões) investidos. Dinheiro que saiu do bolso do mais importante nome da história do futebol romeno. Tudo para alimentar um sonho que terminou a última temporada com o inédito título da primeira divisão do país.
As coisas acontecem mais rápido do que qualquer um esperava para o Viitorul que, em romeno, significa “futuro”. Hagi montou uma academia de futebol paralela ao clube profissional.
Ele diz desejar retribuir ao futebol tudo o que recebeu. Mas quer especialmente render homenagem a Johan Cruyff, seu técnico no Barcelona em 1994, e provar que os garotos romenos são os mais talentosos da Europa. Só precisam de uma chance.
“Cruyff é uma influência na minha vida, não apenas no futebol. Ele me ensinou a tirar o máximo de cada situação, de não se contentar com menos do que o melhor... O Ajax é a escola de futebol que seguimos”, completa.
Ele firmou uma parceria informal com a equipe holandesa. Trocam métodos de treinamentos e jovens romenos vão para Amsterdã passar por períodos de testes.
Hagi, 51 anos, foi o primeiro jogador do país a atingir fama global. Atuou por Barcelona e Real Madrid, ajudou o Galatasaray a ser o primeiro time turco a conquistar um título europeu, a Copa da Uefa de 2000. Disputou três Copas do Mundo. Em 1994, esteve muito perto de levar a Romênia para a semifinal contra o Brasil.
Ele criou a equipe depois que saiu do Steua Bucareste, clube mais tradicional da Romênia, em 2007. Brigou com o dono da equipe, George Becali, político controvertido, já condenado por dizer coisas como que “a mulher, depois que dá a luz, não tem mais utilidade nenhuma”.
A sede é em Constanta, região em que Hagi cresceu. Seu salário é de 500 euros por mês (R$ 1.800). No ano passado, decidiu permanecer como técnico, apesar de ter proposta do Rubin Kazan para embolsar 1 milhão de euros por ano (R$ 3,7 milhões).
A revelação de talentos já deu frutos. O filho de Hagi, Ianis, 18, está na Fiorentina (ITA). Floriel Coman, 18, é cobiçado pelo Benfica (POR)e avaliado em 4 milhões de euros (R$ 14,8 milhões).
A média de idade do time que disputa as eliminatórias da Liga dos Campeões é 23,7 anos. O time ficou conhecido como “as crianças de Hagi”.
Na partida de ida, na Romênia, o Viitorul venceu por 1 a 0. Joga por um empate no Chipre para se classificar.