Folha de S.Paulo

A volta do Profeta

- TOSTÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

HERNANES, APELIDADO de Profeta, por seu jeito descontraí­do e pelo uso correto e inteligent­e das palavras, de acordocomo­quepensaes­ente,semos clichêsdof­utebolês,jáseentros­oucom os companheir­os na primeira partida.

Ele disse, antes da vitória sobre o Botafogo, que ficou surpreso com a enorme recepção que teve no Brasil, pois, “não estava com essa bola toda”. Reconheceu, ainda, que jogou na Europa muito menos do que poderia. É uma supervalor­ização marqueteir­a, como se os jogadores que chegam do exterior fossem melhores do que são ou do que eram e/ou como se estivessem nos melhores momentos das carreiras.

O torcedor se ilude com a propaganda enganosa e, depois, se decepciona. Parafrasea­ndo o “filósofo” Vampeta, os clubes fingem que contratara­m um craque –pagam fortunas por isso–, e os jogadores fingem que são realmente craques, com exceção dos que possuem autocrític­a, como Hernanes. Ele é um ótimo meio-campista, mas nunca foi craque nem titular habitual da seleção. É um raro e verdadeiro ambidestro,poisdribla,passaefina­lizabem com as duas pernas. PRAZER EM DEFENDER O Corinthian­s, como já tinha ocorrido no período inicial, com Tite, vive o prazer de fazer um gol e de desafiar o adversário a empatar. Vai para trás e tenta ter o domínio da bola. É perigoso. O Flamengo empatou e quase faz o segundo.

Alguns “entendidos”, como diria Nelson Rodrigues, falam que o Corinthian­s tem problemas defensivos, pelo alto, pois 75% dos gols que sofre são em jogadas aéreas. Em 17 partidas, o time levou oito gols, sendo seis em bolas altas. São números baixíssimo­s, pelo alto e pelo chão. Como os adversário­s têm muita dificuldad­e em entrar pelo meio, passam a cruzar a bola na área, como fez o Flamengo umas mil vezes.

Preciso fazer uma correção, para não ser injusto. No domingo, escrevi que “Zé Ricardo parece ter gratidão por alguns jogadores que lhe deram força no início de seu trabalho”. Fica a impressão que ele não é um bom profission­al, que protege os amigos. Ele certamente, escolhe por convicções técnicas, nem sempre corretas, como a de preferir, por um longo tempo, Rafael Vaz a Juan. Deveria jogar também Márcio Araújo ou Cuéllar. São razoáveis. Não faz diferença um ou outro. CHEFE CUCA Felipe Melo ofendeu Cuca e está fora do Palmeiras. Não dariam certo juntos o esquisito Cuca e o falastrão Felipe Melo. O jogador, que chegou como estrela, não suportou ser tratado como reserva. Esse foi o estopim de tudo. Odesfechof­oioáudio.FelipeMelo­quis mandar em tudo, e Cuca mostrou a ele quem é o chefe. Discordo apenas da preferênci­a técnica de Cuca. A marcação individual, adotada pelo treinador, que Felipe Melo não teria condições de cumprir, o que é discutível, é um vício, um resquício do futebol ultrapassa­do, que predominou nos últimos tempos no Brasil e que começou a mudar depois da Copa de 2014.

Hernanes, o Profeta, ótimo jogador, sem nunca ter sido craque, será um excelente reforço para o São Paulo

POSSE DE BOLA Estão confundind­o e associando muita posse de bola com jogar no ataque e pouca posse de bola com atuar na defesa e no contra-ataque. Muitas vezes, não é assim. O contra-ataque começa quando se recupera a bola, o que pode ser na defesa, no meio ou no ataque. Muita posse de bola pode ser apenas no próprio campo, sem atacar e sem criar chances de gol. Além disso, ter a bola atrapalha quem não sabe o que fazer com ela.

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